segunda-feira, 9 de maio de 2011

JUSTIÇA "ABENÇOA" COMPROMISSO HOMOAFETIVO

Na maioria das vezes eu me rendo à mania kardecista de pensar por tríades, por influência, tanto quanto Kardec, da bela literatura celta da qual ele era entusiasta. Assim, na construção da personalidade transitória que arrastamos pela existência (refiro-me a "personalidade transitória" como segmento da "individualidade permanente" que todos somos) eu vejo três grandes fatores resumindo todas as influências: a genética, o ambiente e, por falta, no momento, de palavra melhor, as reminicências. Este último fator seria a soma de todos os conhecimentos, experiências, aferições de experiências e as consequentes tendências que já somávamos naquele fatídico dia em que papai e mamãe resolveram transar e o capítulo atual começou. Procurando fugir de um quarto fator que demoliria a tríade, eu diria que esses três elementos são misturados no caldeirão da vida pela consciência (ainda que inconscientemente, entenda!); esta consciência nos conferiria a liberdade individual, o tal livre arbítrio, sem o qual seríamos marionetes nas mãos de forças cegas. Pois bem, parando com enrolação, o que eu pretendo mesmo dizer é que, independente da quantificação da contribuição de cada um desses fatores na determinação de nossa orientação sexual (e a favor de que essa discussão prossiga indefinidamente, pois só aumenta o conhecimento de nós mesmos), eu fico muito feliz com a decisão do STF (que mais uma vez agiu no vácuo deixado pela covardia dos legisladores, a quem competia a responsabilidade pela decisão) valorizando a liberdade das pessoas se juntarem e desjuntarem segundo suas próprias vontades e consciências.
Mas eu queria também, na oportunidade, lembrar o quanto o Chico Xavier e seus Espíritos foram proféticos nisso tudo, reproduzindo parte de um artigo que publiquei há algumas décadas nos murais espíritas.

"No século XIX, quando surgiu o Espiritismo, a homossexualidade não era uma questão em debate. Vivia-se ainda numa sociedade que reprimia o sexo e, portanto, o assunto não se apresentava na filosofia ou na ciência como um premente problema humano exigindo discussão. Por isso que não foi abordado exaustivamente por Kardec. Mesmo assim, no "Livro dos Espíritos", nas questões 200, 201 e 202, está escrito que o espírito não tem sexo, podendo reencarnar ora como homem, ora como mulher, conforme suas necessidades de progresso. Mais tarde, em 1866, na Revista Espírita de janeiro, no primeiro artigo, Kardec volta ao assunto explicando "certas anomalias aparentes" pela reencarnação do Espírito em sexo diferente depois de "percorrer uma série de existências no mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa". E reitera que "não existe diferença entre o homem e a mulher, senão no organismo material, ... porque não há duas espécies de almas".

"Já no século XX, podemos apresentar, na bibliografia espírita, opiniões mais definidas.

"André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, mostra-se bastante aberto e tolerante em relação ao assunto. No livro "Evolução em dois mundos", de 1958, Segunda parte, cap. XII, encontramos: "Quanto à perda dos característicos sexuais, ... ocorrerá expontaneamente, quando as almas humanas tiverem assimilado todas as experiências necessárias à própria sublimação, rumando, ... para a situação angélica, em que o indivíduo deterá todas as qualidades nobres inerentes à masculinidade e à feminilidade..." E no livro "Sexo e destino", de 1963, cap. IX, podemos ler: "... que inúmeros espíritos reencarnam em condições inversivas, seja no domínio de lides expiatórias ou em obediência a tarefas específicas, ... homens e mulheres podem nascer homossexuais ou intersexos, ... que nos foros da Justiça Divina ... as personalidades humanas tachadas por anormais são consideradas tão carentes de proteção quanto as outras que desfrutam a existência garantidas pelas regalias da normalidade, segundo a opinião dos homens, observando-se que as faltas cometidas pelas pessoas de psiquismo julgado anormal são examinadas no mesmo critério aplicado às culpas de pessoas tidas por normais, notando-se ainda, que, em muitos casos, os desatinos das pessoas supostas normais são consideravelmente agravados, por menos justificáveis perante acomodações e primazias que usufruem, no clima estável da maioria ... e sobre preceitos e preconceitos vigente na Terra... os homens não podem efetivamente alterar, de chofre, as leis morais em que se regem, sob pena de precipitar a Humanidade na dissolução, ... no entanto, no mundo porvindouro os irmãos reencarnados, tanto em condições normais quanto em condições julgadas anormais, serão tratados em pé de igualdade, no mesmo nível de dignidade humana, reparando-se as injustiças assacadas, há séculos, ... porquanto a perseguição e a crueldade com que são batidos pela sociedade... lhes impedem ou dificultam a execução dos encargos que trazem à existência física, quando não fazem deles criaturas hipócritas, com necessidade de mentir..."

"Esse "mundo porvindouro", a que André Luiz se refere, é, sem dúvida, o nosso, uma vez que já se passaram 47 anos da publicação do livro e, hoje, vivemos num mundo onde o preconceito contra os homossexuais é encarado como uma anormalidade. As leis, cada vez mais, procuram garantir os direitos das minorias, permitindo que vivam suas vidas à sua maneira, sem os antigos prejuízos."

sexta-feira, 6 de maio de 2011

DEUS E A CIÊNCIA

Quando Laplace expos ao Napoleão a formação do Sistema Solar, o Imperador perguntou-lhe onde Deus entrava nessa história. O cientista respondeu que não precisara dessa hipótese.
Estou lendo o valioso trabalho sobre Crookes, citado na postagem anterior; ainda não terminei, e voltarei mais vezes ao assunto. Mas, já me ocorreu uma associação com a historinha do Laplace. Crookes cercou-se de cuidados, tentou restringir-se a uma metodologia científica, é criticado até por não levar à sua comunidade científica todos os fenômenos observados selecionando apenas aqueles para os quais apresentava evidência. Pois bem, não conseguiu convencer seus pares nem mesmo da existência, da ocorrência dos fenômenos, quanto mais de suas possíveis causas. Os cientistas encarregados de aprovar a aceitação ou publicação dos artigos pela Royal Society, apesar do respeito que tinham pelo colega, recusaram-se mesmo a comparecer às suas sessões e observar de perto seus experimentos. E o mesmo ocorreu com outras agremiações científicas, e tem ocorrido até hoje nos centros de pesquisas do mundo todo: tal como Laplace não precisou da hipótese teísta, a ciência tem dispensado reiteradamente a hipótese espírita. Tem passado batido. E daí? Ela tem feito falta? Passaram-se duzentos anos da entrevista com Napoleão, mais de cem das recusas à observação do fenômeno psi, e, nesse tempo todo a ciência conseguiu realizações estupendas no campo das telecomunicações, dos transportes -- levando-nos a voar pela atmosfera, pela estratosfera e o cosmo --, no campo da medicina, do lazer, enfim, do micro e do macrocosmo e, sem levar em consideração a hipótese espírita.
Quem precisa da hipótese espírita é a religião. Esta sim, se extingue se não escorar-se na hipotese teísta, e pode resvalar para o esgotamento ou para o fanatismo se não levar em consideração a hipótese espírita.
Mais uma vez acredito na seleção natural das idéias referida em postagens anteriores. O espiritismo terá o seu lugar na ciência quando a ciência precisar da hipótese espírita. E o espiritismo deixará de ser religião apenas quando a religião desnecessitar da hipótese espírita, ou nós desnecessitarmos da religião.