quarta-feira, 26 de setembro de 2018

NOVA EDIÇÃO DA TRADUÇÃO PORTUGUESA DO LIVRO OS ESPÍRITOS


Visite o site ESPIRITISMO CULTURA e  leia sobre a terceira edição da Tradução Portuguesa de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, de Allan Kardec (disponível para download na Kardecpedia.com):

"A presente tradução tem o intuito de ajudar a criar uma nova geração de leitores de “O Livro dos Espíritos”, sobretudo junto de pessoas não espíritas , mas que também poderá, com proveito, ser lido por pessoas já conhecedoras do tema.

Inclui um prefácio dos tradutores, dirigido a essas pessoas e um nutrido grupo de Notas finais acerca das diferenças de cultura, de sensibilidade e de terminologias entre o que era antes e o que é hoje, relativamente ao tempo em que a obra foi organizada por ALLAN KARDEC, em meados do século XIX.

O trabalho geral de revisão do livro traduzido foram movidos pelos seguintes propósitos:

PRIMEIRO

Aproximação mais acentuada do francês praticado pelo autor da obra ao português falado nos nossos dias, com critérios de ordem gramatical e lexical coerentes com o espírito da cultura respectiva.

SEGUNDO

Sendo “O Livro dos Espíritos” a obra basilar da cultura espírita, o leitor terá um acesso mais fácil e penetrará mais fundo na restante obra de Allan Kardec.

TERCEIRO

A vontade de abertura sinalizada no prefácio de autores e o franco desejo de debate de ideias sugerido nas Notas finais do Livro sugerem o recentramento da obra de Allan Kardec no estudo fundamental da cultura espírita."

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

ESTUDOS SOBRE "A GÊNESE" DE KARDEC



"Em filosofia, em psicologia, em moral e em religião, só é verdadeiro o que não se afaste, nem um iota, das qualidades essenciais da Divindade". Kardec, G,II,19.

"Todas essas maneiras de encarar o instinto são necessariamente hipotéticas e nenhuma tem uma característica suficiente de autenticidade para ser tida como a solução definitiva. A questão, por certo, será resolvida, um dia, quando estiverem reunidos os elementos de observação que ainda faltam. Até lá, é preciso nos limitarmos a submeter as diversas opiniões ao cadinho da razão e da lógica e esperar que a luz se faça. A solução que mais se aproxima da verdade será, com certeza, a que melhor corresponda aos atributos de Deus, isto é, à soberana bondade e à soberana justiça". Kardec, G,III,17.

Será que podemos tomar este método como científico?
Sem dúvida nenhuma, é um bom critério aceitarmos como verdadeiro apenas aquilo que não se afaste das "qualidades essenciais da Divindade". Mas, na Religião! É perfeitamente factível que um crente, ao decidir se suas conjecturas sobre o sexo dos anjos (ou sobre o dragão na garagem do Sagan) são verdadeiras consulte seu guru, seu livro sagrado ou, mesmo, sua imaginação (já que os fenômenos religiosos habitam esta esfera do pensamento). Afinal, religião, assim como seus elementos, no caso "as qualidades da Divindade", é uma questão de foro íntimo. Religião, cada um tem a sua.
Na filosofia também, afinal, uma terra de ninguém que levou certo pensador a notar que não há absurdo sobre a face da terra que já não tenha sido defendido por algum filósofo.
Agora, quando a coisa começa a se aproximar de instâncias práticas, como a moral e a psicologia, penso que devemos buscar critérios mais objetivos. Principalmente nesta última, onde seria ridículo exigirmos do pesquisador de um fenômeno qualquer na psicologia que consultasse as determinações do Aiatolá Kamenei, do Pastor Malafaia ou do nobre Papa antes de concluir pela sua hipótese (não digo por "uma verdade", porque não acredito que a ciência busque "a verdade"; acredito mais que ela busque o "conhecimento").
Poderíamos tentar uma defesa de Kardec (já que somos movidos pelo desejo religioso de que ele, como porta-voz dos espíritos superiores, como encarregado da terceira revelação de Deus aos homens, esteja sempre certo) dizendo que tal critério de verdade deve ser estudado à luz de sua concepção das "qualidades da Divindade", colocadas no início do LE e, à altura de qualquer Spinoza. Mas, sabemos que tais concepções, por mais nobres que o sejam, estão longe de serem universais. O que nos levaria à necessidade de, primeiro, convencer os cientistas de que existe um Deus e suas qualidades são aquelas relacionadas no LE, para que, só então, pudéssemos considerar válido o resultado de suas pesquisas na área da psicologia. Ora, não é bem mais fácil deixarmos tal critério para os assuntos religiosos -- ou, quando muito, para os filosóficos --, e voltarmos aos protocolos de pesquisa, teste, elaboração de hipóteses, verificação, refutação, etc., ainda não abandonados pela ciência?
Vale lembrar aqui de uma anedota histórica. Dizem que quando Laplace demonstrou ao Napoleão sua teoria sobre a formação da Terra e do Sistema Solar, o Imperador, impressionado, perguntou: "E Deus, onde entra aí nessa história?" Ao que Laplace respondeu: "Majestade, não precisei dessa hipótese". Portanto, Deus, suas qualidades, sua infinita bondade, seus atributos, etc., é uma hipótese desnecessária à ciência. Só é necessária aos pobres cientistas que vivem em Estados teocráticos. Foi necessária na Idade Média da Europa; é necessária no Oriente Médio; está sendo cada vez mais necessária no Brasil Evangélico; e, se tornará necessária quando o espiritismo kardecista tornar-se hegemônico, pois, ao menos na moral e na psicologia, "só será verdadeiro o que não se afaste, nem um iota, das qualidades essenciais da Divindade".

(A propósito, tais critérios de verdade cogitados por Kardec constam das duas versões da sua Gênese: a "Gênese Restaurada" e a "Gênese Reformada")

segunda-feira, 2 de julho de 2018

A HISTÓRIA NOS BRINDOU COM DUAS VERSÕES DA "GÊNESE" DE KARDEC

(Publicado em 10.03.2018, no grupo "Espiritismo - Estudos Avançados", do Facebook)

Estabeleceu-se um falso paradigma: "já está comprovado que houve adulteração ilegítima na Gênese!"
E julgando-se de posse da verdade definitiva pretendem escrever a história futura sobre este suposto paradigma.
No entanto, se há uma verdade, é que não há qualquer comprovação de que a Gênese tenha sido alterada por Leymarie ou alguém da comissão central. E, ausência de provas não prova nada!
O que há de fato é que (e isto se levanta até com a ajuda da última pesquisa): assim que os dramáticos acontecimentos políticos, sociais e financeiros na França do início dos anos 1870 o permitiram, os continuadores de Kardec (isoladamente ou em conjunto - esposa, gerentes, etc. - isto não há como saber; não haviam câmaras nas ruas nem nas casas) pegaram o calhamaço da Genese "revisada, corrigida e aumentada", que eles criam ou supunham deixado pelo autor, fizeram o depósito legal no Ministério do Interior, sem contestação, fizeram o depósito legal na BNF, sem contestação, imprimiram, venderam e divulgaram, sem contestação, um pesquisador colocou em seu catálogo das edições francesas, sem contestação e, doze anos depois da publicação, após a morte da principal testemunha e colaboradora do autor, após o envelhecimento de outras testemunhas, quando evidentemente não se esperava ainda existir qualquer rascunho ou manuscrito, Henri Sausse, no calor de uma intensa peleja contra o Pierre-Gaëtan Leymarie, contesta! Porém, sua contestação foi contestada. Se a contestação da contestação foi canhestra, torta, risível, etc., foi, ao menos, eficaz: todos os espíritas e toda a cultura da época se acomodaram com a quinta edição como definitiva. O único fato posterior a este, antes da mudança de Século, foi a publicação de "Obras Póstumas", em 1890, com duas anotações de Kardec feitas durante o ano de 1868, dizendo que estava fazendo "acréscimos e supressões" em sua Gênese. Isto também ninguém contestou na época, quando seria (ou foi) possível a apresentação de documentos comprobatórios, como manuscritos ou assemelhados. A história se consumou, todo o mundo passou a editar e traduzir a versão "revisada, corrigida e aumentada", a outra versão foi esquecida e adormeceu, enquanto o mundo deslizava para o Século mais violento, veloz e estonteante de toda a saga humana. Até que, ao fecharem-se as cortinas do Século XX, Carlos Brito Imbassahy, por razões equivocadas mas num ato isolado de determinação e coragem, resgatou a primeira versão da Gênese, numa tradução disponibilizada gratuitamente na internet.
As circunstâncias históricas irreversíveis do final do Século XIX enriqueceram a cultura humana com uma segunda versão da Gênese de Kardec. Ficamos com duas ótimas versões, cada uma com suas qualidades e defeitos, porém, equivalentes em importância e direito de cidadania. Intensos debates surgiram após o resgate da versão esquecida, seguidos de pesquisas serenas e imparciais, que não lograram estabelecer um conhecimento preciso dos fatos ocorridos há século e meio.
Não houve nenhum fato novo, não se descobriu nenhuma novidade que fizesse pender a balança em favor de qualquer das duas partes em conflito no século XIX, quando o Sausse afirmava que houve uma infamante adulteração da obra, e o Leymarie dizia que a infâmia recaía sobre quem acusava sem provas.
Agora, surge uma campanha massiva e maciça, apoiada por tradicionais instituições espíritas, com adesões entusiasmadas de espíritas que, muitos deles, isto não se pode negar, não mergulharam na história e nunca chegaram a comparar as duas versões (oxalá tenham lido inteiramente uma delas que seja) e, baseados numa pesquisa que, se bem tenha sido árdua, sacrificiosa, desinteressada e heróica, foi, ao mesmo tempo, equivocada, ingenuamente falaciosa e precipitada em afirmar uma certeza sem nenhum fato novo que a justifique e, pretende (a campanha, não a pesquisa), anatematizar, destruir, rejeitar e lançar no esquecimento uma das versões. Como se houvesse senso em uma vingança: resgatar a edição esquecida por um século e aplicar o mesmo castigo do esquecimento à outra.
Ora, a história nos brindou com duas versões; como tributo, dissolveu em suas brumas do tempo todo e qualquer fato, documental ou não, que nos permitisse negar com certeza que o autor empenhou horas de trabalho revisando sua obra.
Não. Não haverá um retardatário e nostálgico auto de fé para a imolação de nenhuma das duas versões.
Não se muda a história ao prazer de grupos ou ao sabor de embates políticos intra-institucionais. A história, forjada por todos os homens é maior e mais forte do que cada um deles ou de qualquer grupo em separado. E, a história gerou duas versões de uma mesma obra. Ninguém vai mudar isto. Não haverá um "Fahrenheit 451" para nenhuma obra em especial. Biblioclastas "no pasarán"!
(João Donha)

CURSOS DE ESPIRITISMO EM "BANNER"

(Publicado em 01.05.2018, no grupo "Espiritismo - Estudos Avançados" do Facebook.


Refiro-me a essas frases pinçadas da kardequiana e colocadas - totalmente fora do contexto, claro - em bandeirolas coloridas nos diversos grupos desta rede.
Houve uma época em que proliferaram os "cursos de espiritismo em apostilas".
Se há mercado, por que não a mercadoria?
A maioria das pessoas não gosta de ler livros. Acham-nos extensos demais. E, quando lêem o fazem muito mal. Ou seja, até conseguem unir as letrinhas e reconstruir as palavrinhas; mas, não sabem interpretar. Não digo que o seja por ignorância; talvez pela pressa.
Daí, o sucesso das apostilas e, agora em rede, dos "banners".
Que não seja o próximo passo o simples grito, como alertou Saramago. É preciso observar ainda que o tom dogmático dos "banners" toca o cantinho medieval mal adormecido da alma. O problema é que facilita aos autores (dos "banners" e das "apostilas") as falácias fúteis, fluidas e fáceis, para ficarmos na "efelogia" do saudoso MalbaTahan.
Recentemente vi um caso emblemático dessa tragédia.
Todos sabemos da discussão bizantina que sempre houve no movimento espírita quanto ao caráter da doutrina: "é religião", "é apenas religiosa", "tem religiosidade", "é religião em sentido filosófico", "não é religião", "não tem nada de religião", e por aí afora vão desenrolando as mais variadas opiniões.
Nada contra nenhuma opinião. Confesso minha indecisão (ou ignorância) quanto ao assunto.
Mas vai daí, um operoso militante da opinião de que não deve ter nada de religião, lança um "banner" com uma frase bombástica, letras negras em fundo claro: "O ESPIRITISMO É UMA CIÊNCIA PURAMENTE FILOSÓFICA; NÃO SÓ NÃO É UMA RELIGIÃO, COMO NÃO DEVE TER NENHUM CARÁTER RELIGIOSO. Allan Kardec. RE 1866". Estas aspas são minhas, para delimitar o que estava no "banner".
Em face desta frase e, sem o cuidado de ler (com atenção) o texto completo, o que se entende? Que Kardec expressou, em algum momento, a opinião de que o "espiritismo é uma ciência puramente filosófica" e que "não deve ter nenhum caráter religioso" (atentem para o "puramente" e o "nenhum", palavras que conferem o tom radical e dogmático à frase). E, pois, foi justamente assim que a frase foi entendida, o que se nota pelos comentários subsequentes.
Afinal, tal frase existe? Sim, existe. Está na RE 1866? A resposta também é sim. Foi escrita por Kardec? Mais uma vez, sim. Então, onde está a falácia? A falácia está em que a frase, fora do contexto, foi apresentada e recebida como uma opinião de Kardec. E, Kardec nunca expressou tal opinião!
No texto em questão Kardec está defendendo a utilidade da prece, inclusive nas reuniões espíritas. Procurando discutir a opinião dos que acham inútil a prece no espiritismo, ele resume os três principais argumentos dos que assim pensam. Essa frase, colocada por ele entre aspas em sua publicação original, resume, portanto, um dos argumentos dos que combatem o uso da prece. Assim, esta frase representa, na verdade, uma opinião contrária à de Kardec. Opinião que ele contesta na sequencia do seu artigo, dizendo que o espiritismo faz "filosofia experimental e não especulativa"  (o que se contrapõe a "ciência puramente filosófica")  além de, aqui como alhures, conferir "algum" caráter religioso, por menor que seja, à sua doutrina: "religião em sentido filosófico", "assembleias feitas religiosamente sem que isto a torne religião", e outras colocações semelhantes.
Nossa intenção não é criticar ou afrontar este ou aquele, mas, simplesmente, chamar a atenção para a necessidade da leitura das obras de um autor para conhecer realmente seu pensamento. Ao mesmo tempo, alertar para o fato de que, se é temerário aprender espiritismo por apostila, por "banner" é pior ainda.
(João Donha)