Alguns argumentos que põem em dúvida o caráter científico do espiritismo são dignos de atenção e provocam um bom debate. Outros, porém, são de uma puerilidade comovente.
Outro dia li no orkut alguém argumentando que o espiritismo não é científico porque "não se fazem pesquisas nos centros espíritas". Ora, dentro de qualquer ciência existem os centros de pesquisas, e os centros de aplicação prática dos conhecimentos acumulados. E, entre os centros de aplicação prática existem aqueles mais abertos às novidades que vêm dos centros de pesquisas, e aqueles que são mais refratários a novidades e mudanças. Nas capitais ou no interior temos inúmeros consultórios de dentistas, médicos, veterinários, advogados, psicólogos, assim como, inúmeros pedagogos, professores de educação física, de língua portuguesa, literatura e outros, todos eles, aplicando conhecimentos acumulados ao longo de décadas ou séculos, poucos realizando pesquisas, mas, todos, atualizando-se constantemente por publicações que relatam os resultados das pesquisas realizadas em universidades, institutos, fundações, laboratórios, enfim, centros que se dedicam à pesquisa. Os centros espíritas não têm compromisso com a pesquisa porque são centros de aplicação de conhecimentos. Têm, sim, o compromisso de se manterem atualizados com as pesquisas e questionamentos gerados em centros outros, como, por exemplo, a SBPE de Curitiba, o CPDOC de São Paulo, aquele outro herdado do Engenheiro Hernani, e mais uma porção existentes do Brasil e no mundo.
Outro fator a se considerar é a necessária adaptação da metodologia de ciência para ciência e de prática para prática. Não se pode pretender estudar um poema, uma pulsão ou uma virose, com o mesmo método que se estuda um combustível, o deslocamento de um objeto no vácuo ou um terremoto.
Temos que levar em conta também, em nossa analogia, os diferentes objetivos das atividades científicas. O espiritismo não pretende formar profissionais; sua prática não se dirige a um mercado. Ele é uma causa; gera uma atividade voluntária e não lucrativa. Daí, suas imbricações com a filosofia e a religião serem mais fortes e presentes que em outras atividades humanas.
E, se o argumentador pretender que o espiritismo não pode ter um aspecto científico por não ser ou não gerar uma atividade profissional, lembramos a ele que a profissionalização não é privilégio da ciência. Se admitimos a existência de religiosos profissionais, por que não admitirmos a existência de cientistas não profissionais?
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