quarta-feira, 17 de novembro de 2010

FLAMMARION ESPÍRITA?

"Em 31 de março de 1869, o chefe da escola espírita, Allan Kardec, morreu subitamente, aos 65 anos, e em 2 de abril seria sepultado no cemitério do Norte. Relatei mais acima como havia entrado em relações com ele no mês de novembro de 1861. Embora meu trabalho não me permitisse nenhuma assiduidade às reuniões da sociedade espírita da qual ele era o presidente-fundador, o comitê dessa sociedade convidou-me, em seu nome e no de Madame Allan Kardec, para presidir as exéquias civis e pronunciar um discurso. Eu estava me mantendo à distância desde algum tempo sobretudo, não admitindo que o espiritismo pudesse ser a base de uma religião antes que os fenômenos fossem cientificamente demonstrados e explicados. Contudo, rendi-me a tão honorável convite... (...) O Comitê me propôs suceder Allan Kardec como presidente da Sociedade Espírita. Recusei, sabendo que nove entre dez de seus discípulos continuariam a ver ali, durante ainda muito tempo, uma religião, em vez de uma ciência, além do que a identidade dos "espíritos" está longe de ser provada. Quarenta anos se passaram desde então. Os seguidores de Allan Kardec pouco mudaram sua fé; a maior parte recusa ainda a análise científica, única que poderia nos esclarecer exatamente".
(Camille Flammarion
"Memórias biográficas e filosóficas de um astrônomo"
Ernest Flammarion Editeur, Paris, 1911 -- Em facsímile da Gallica.bnf.fr).

Flammarion era um geniozinho de 19 anos quando encontrou-se com Kardec e começou a frequentar a sociedade espírita de Paris. Aos 27 já o vemos afastado do espiritismo, e recusando convites da própria Amelie Boudet para retornar em posição de destaque. Ele morreu aos 83. Seu afastamento precoce se deu por não concordar com os rumos que o presidente-fundador dava ao movimento: sem ter ainda construído uma metodologia que identificasse os espíritos de forma rigorosamente cientifica, ele não só os aceitava como tais, como os recebia na condição de sábios, enviados por Deus para procederem a uma nova grande revelação para a humanidade. Uma humanidade que, àquela altura, já prescindia de revelações divinas, pois adquirira maturidade suficiente para desvendar os segredos da natureza por si mesma. Aliás, poucos anos depois aposentaria o próprio Deus.
É incrivel como ainda hoje, no século XXI, encontramos pessoas que dizem ser científico sentar-se à frente de uma jovem em transe e acreditar-se estar recebendo de um Galileu ou Leonardo, profundas revelações ou soluções de problemas que temos condições e obrigação de buscar pela filosofia e pela ciência.
Agora, como religião, é outra coisa. Como religião, aceitamos de bom grado, principalmente se mantém nossa auto-estima, nossa felicidade e nossa saúde, até a revelação de um mendigo.
Daí porque Kardec, ao fim da vida, entregou os pontos e admitiu que era presidente-fundador de uma religião, ainda que, relutava, "em sentido filosófico".
Mas, o mais incrível de tudo é a teimosia cega com que os intelectuais espíritas repetem o lugar-comum de que o espiritismo era científico na Europa e foi transformado em religião no Brasil, ante toda essa evidência histórica em contrário!

39 comentários:

  1. João:

    Fiquei imensamente feliz lendo seu post! De fato, o que minha pesquisa tem indicado é que o espiritismo (a doutrina kardeciana) é religioso desde o começo. Até porque, não há ciência que se torne religião, não é?! Essa história de Camille Flammarion é muito significativa. Como também o é esse mesmo discurso feito por ele, por ocasião das exéquias de Kardec. Nele há críticas Kardec e a sua "escola de feição pessoal". Mesmo a adjetivação de Kardec como o "bom senso encarnado", tão orgulhosamente ostentada pelos espíritas, contém um crítica velada ao espiritismo kardeciano. Parabéns por suscitar essa discussão! Um abraço.

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  2. Correto, Augusto,

    Essa sua idéia de crítica se reforça com a leitura de um trecho que omiti no post: "No entanto, eu fui a este honroso convite e fiz um discurso do qual deve ser aqui o lugar de citar certas passagens. Aqui estão alguns trechos. Pode-se ver o quanto eu queria, diante do caixão do próprio fundador, estabelecer o valor fundamental da natureza científica a dar-se a estes estudos".
    Quanto a ciência virar religião, não tem; só na filosofia; que o diga seu xará com a "Religião da Humanidade" (rsrs)
    Um grande abraço.

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  3. O raciocíonio afigura-se essencialmente incorreto, sob ângulo da própria filosofia espírita. A Doutrina Espírita não visa a ser entronizada como "ciência acadêmica", mesmo porque não se têm - ainda hoje - conceitos fixos de ciência. A Epistemologia está aí a demonstrá-lo a todo instante. Por outro lado, se há espíritas sentados à frente de médiuns em transe (em transe?), na expectativa de ouvir Galileu, Arago ou Kepler, isto só demonstra a completa e integral incompreensão do método espírita. Primeiramente, nem toda a verdade se reduz a uma experimentação dita científica nem dela advém. Há, pois, conceitos "intestáveis" e, portanto, "irrefutáveis", o que, sob ângulo "popperiano", não implica a infirmação lógica de um enunciado. Ademais, não se pode raciocinar por exclusão mútua, como se as categorias filosóficas fossem estanques. O raciocínio disjuntivo nem sempre funciona na análise de problemas de contorno do objeto científico. Uma observação:a "sociologia da ciência" há demonstrado, muitas vezes cabalmente, ser a "verdade científica" resultado não só da teorização sob testabilidade e refutalidade, mas também de "relações de poder" "interna corporis". Exemplo: a Teoria Eletromagnética de Weber explica tão bem o eletromagnetismo quanto a de Maxwell, mas, por motivações estéticas, dá-se predileção acadêmica à última. A demonstração matemática, em uma e em outra, afigura-se de idêntica precisão. Desse modo, não me convence o entrecho retirado de Nicola Camille Flammarion. Enquanto os "cepistas" assinalam ser o ensaio de Kardec sobre a religião em sentido filosófico uma demonstração de natureza não religiosa, o articulista entrevê o contrário. Allan Kardec, porém, ao contrário do afirmado, não entregou os pontos como aqui se pretende. De mais a mais, o comentarista julga-se habilitado a analisar a obra espírita no interior do seu gabinete de filosofia, pelo só fato de ser graduado na área. Ele só demonstra não conhecer profundamente a obra.

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  4. Eu conheço um grupo de espíritas que se sentou à frente de médiuns em transe na expectativa de ouvir não só os nomes citados aleatoriamente e apenas com fins literários por mim e pelo comentarista, mas, também, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, e vários ETc., e o que ouviram deles, objetivamente dos médiuns, tornou-se princípios básicos doutrinários publicados com o título de "O Livro dos Espíritos". Tudo bem, podemos reunir uma porção de sábios até da nossa geração, entrevistá-los, e tornar o resultado uma doutrina; teríamos então, talvez, "O Livro dos Sábios". Mas, transformar suas respostas em corretas, reveladoras da vontade de Deus, princípios de doutrina, e coisas semelhantes, configura um ato de confiança muito próximo da crença, senão ela própria. A confirmação da religiosidade do ato se dará quando a reação for visceral a qualquer questionamento do método ou do resultado.

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  5. Portanto, reconheço, é muito tênue a cortina que separa conteúdos científicos de religiosos; o que seria suficiente prá lembrar a humildade aos militantes de ambos os lados...

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  6. Olá, João Donha.
    Se tomarmos "espiritismo" em seu sentido mais abrangente (vide http://espiritismobrasileiro.blogspot.com/2010/02/o-que-e-espiritismo.html), penso que a resposta à pergunta-título deste post é positiva, ou seja, Flammarion, pelo menos desde fins de 1861, *acreditava* na existência de espíritos e na possibilidade da intervenção destes no mundo material. Agora, importante ressaltar: em fins de 1863 ele chegou à conclusão de que de que não apenas as assinaturas das mensagens mediúnicas obtidas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas não eram autênticas - inclusive seus escritos como Galileu! -, como a intervenção de espíritos ali não estava provada de modo algum (vide http://jedarib.blogspot.com/2011/06/o-cientista-flammarion-e-ciencia-de.html). Ou seja, como este que vos escreve, Flammarion era espírita, mas não espírita kardecista.
    Abraços.

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  7. O texto associado ao último endereço citado acima encontra-se desde 25.09.2011 em outro: http://topicosespiritas.blogspot.com.br/2011/06/o-cientista-flammarion-e-ciencia-de.html.

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  8. Ultimamente o que me chama a atenção é o modo como cada um é espírita a seu modo. Vejo espíritas que não acreditam em Deus, espíritas que não são kardecistas, espíritas kardecistas, espíritas que negam Kardec e baseiam na obra de Chico Xavier, etc, etc. A impressão que tenho é que o Espiritismo está definitivamente partido em mil tendências, cada uma sendo espírita a seu modo.

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    1. Todos os modos mencionados de "ser" espírita são válidos conceitualmente se consideramos a definição de "espírita" dada por Kardec no item I da Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, parte inicial de O Livro dos Espíritos. A definição é ampla, e abarca inclusive aqueles que se caracterizam como não kardecistas, ou seja, que não concordam com as considerações de Kardec em sua totalidade. Sendo assim, de fato, o Espiritismo (aquele do item I supramencionado, importante frisar, visto as contradições do próprio Kardec a respeito do termo) abrange mil tendências diversas, mas não porque cada um o interpreta a seu modo, e sim porque a própria definição da palavra permite isso.

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    2. Belíssima colocação, José Edmar. Concordo plenamente. O problema é que cada um pentencente a um determinado entendimento acha que o entendimento dele é o mais correto.

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  9. Outra coisa, o livro mencionado no post, salvo engano, já está traduzido para o português: "As Forças Naturais Desconhecidas", Camille Flammarion, Editora do Conhecimento, 2011

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    1. Sim, ele já está traduzido para o português. Desde... 1942! Foi publicado naquele ano pela FEB (o que mostra que a instituição já teve seus tempos de livre pensar espírita), mas, infelizmente, nunca foi reeditado. Também cito no post mencionado esta tradução recente publicada pela Ed. do Conhecimento. Leitura atenta faz bem.

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  10. Tinha notícias dessa tradução da FEB. Mas pelo que me consta não foi feito na íntegra. Estaria equivocado? A tradução que mencionei é mais recente. Referem-se ao mesmo livro?

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    1. Como o Sr. Cândido Pereira, responsável pelo artigo em que me baseei para dizer que o "As Forças Naturais Desconhecidas" fora publicado pela FEB em 1942, ainda não me respondeu à solicitação de detalhes a respeito da referida obra, e talvez nem o faça, deixo então aqui registrado o seguinte: não sei dizer se a FEB publicou apenas uma tradução parcial da obra, mas não acredito que a tradução publicada tenha sido a da 1a. versão do livro, de 1865, bem menor e muito mais branda, uma vez que Flammarion deixou claro no início da versão de 1907 que ele não reeditara a versão anterior justamente porque a considerava ultrapassada; isto teria sido um verdadeiro ultraje à memória do astrônomo francês.

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  11. Não acho. Flammarion tinha direito de ter uma opinião crítica, mesmo em relação a sua obra. Isso é muito comum. O interessante é que a posterioridade, avaliando obras que foram assim consideradas pelos próprios Autores, muitas vezes consideram-nas importantes. São obras, digamos assim, renegadas mas que tem um interesse documental ou ainda para compreendermos a evolução do próprio autor. No caso, o texto de Flammarion é importante pois é um dos poucos documentos de quem esteve presente nas reuniões da SPEE e, mais ainda, de como foi produzido o material, considerado pelo próprio Rivail como fundamental para a composição do que hoje muitos defendem como "doutrina espírita".

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    1. 1- "Não acho". Ora, mas não é questão de achar! É uma obviedade que a publicação post-mortem de obras desconsideradas pelos próprios autores são insultos às suas memórias. Se a posteridade se beneficiará com isso, é uma outra história.

      2- "Flammarion tinha direito de ter uma opinião crítica, mesmo em relação a sua obra". Sim. Alguém disse o contrário?

      3- "No caso, o texto de Flammarion é importante pois é um dos poucos documentos de quem esteve presente nas reuniões da SPEE e, mais ainda, de como foi produzido o material (...)". Ora, ora... O texto de Flammarion que se constitui em um dos poucos documentos de quem esteve presente nas reuniões da SPEE e que revela sobre o que se passava ali é aquele da edição de 1907 do livro, não o da de 1865! Por obséquio, vá se inteirar melhor do assunto pra não repetir besteiras como esta...

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    2. 1- não é "obviedade" e tanto não é que você mesmo reconheceu: "Tem razão. Nos casos em que são dadas as devidas explicações, não há desrespeito ao finado autor, ainda que -- fora ele o próprio detentor dos direitos autorais, e fosse eu seu descendente -- jamais permitiria a reedição de uma obra sua abandonada e substituída em vida, a não ser que ele se manifestasse espiritualmente (teria antes que me convencer disso) liberando a publicação";

      2 - você: '"uma vez que Flammarion deixou claro no início da versão de 1907 que ele não reeditara a versão anterior justamente porque a considerava ultrapassada";

      3 - reporto-me ao meu post anterior: "Tinha notícias dessa tradução da FEB. Mas pelo que me consta não foi feito na íntegra. Estaria equivocado? A tradução que mencionei é mais recente. Referem-se ao mesmo livro?" Foi você que disse ser o mesmo livro! Se você tivesse dito que se trata de livros diferentes, como se julga profundo conhecedor, não teria prosseguido...

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    3. 1- De fato. A coisa só é mesmo óbvia se nenhuma explicação a respeito é dada, como já reconheci.

      2- Além de péssimo leitor (do contrário não teria me "informado" que o livro do qual tratei em meu post tivera uma tradução recente, sendo que menciono isso logo no 2o. parágrafo do texto!), vejo que és portador de notável déficit cognitivo. Quer dizer que pode-se concluir de "uma vez que Flammarion deixou claro no início da versão de 1907 que ele não reeditara a versão anterior justamente porque a considerava ultrapassada" que eu estaria dizendo que Flammarion não tinha direito de ter uma opinião crítica em relação à sua obra? É mesmo?!

      3- Sua falta de capacidade de raciocínio é mesmo digna de lástima. O que eu considerei ser o mesmo livro foi aquele tomado por base para as traduções tanto da FEB quanto da Ed. do Conhecimento. Só isso! Agora, você, demostrando enorme falta de conhecimento do assunto, tirou, sabe-se lá de onde, que a edição ultrapassada de 1865 (que está mencionada explicitamente em meu post!) seria importante porque "..." (aí vem aquela sua pataquada que mencionei no item 3 de meu comentário anterior), sendo que nada do que disseste nela se encontra!

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    4. 1 - :)

      2 - Transcrevi o que você escreveu. Só isso.

      3 - Idem.

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  12. Estes dias, num post particular, Herivelto Carvalho me disse que Flammarion, Aksakof e Richet tinham uma visão particular do Espiritismo: somente consideravam o que a ciência pudesse constatar, prescindindo de toda "moral" cristão, de toda concepção metafísica, inclusive de Deus. Também já participei de discussões onde disseram que Flammarion, no final da vida, não mais se considerava Espírita. Enfim...

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    1. Enfim, você já "ouviu dizer" muito a respeito de tais autores, não? Que tal então começar a estudá-los, para poder formalizar opinião mais robusta a respeito?

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    2. Meu caro José Edmar, se você menciona opinião de outros, sem dizer qual a fonte, sinto dizer mas você está sendo desonesto. No meu post estou mencionando a opinião de um amigo, profundo conhecedor e estudioso o qual respeito muito, assim como o João Donha tenho certeza. Como não se trata de opinião minha mas dele, citei-o. Isso pos dois motivos: (a) não é minha; (b) se questionado, não teria como sustentar pois não sei os caminhos que ele percorreu para chegar a essa conclsuão. Por isso, por "honestidade intelectual", algo que talvez você desconheça, citei-o. Eu não "ouvi dizer": eu ouvi dizer de fonte, no meu entendimento, muito qualificada.

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    3. Primeira coisa: Qual post? Seja claro!

      Segunda coisa: você diz que talvez eu desconheça "honestidade intelectual". Pois bem. Eu o desafio, seu comentarista de araque, a mostrar-me um único ponto em trabalhos de minha autoria que endosse a tua dúvida.

      Terceira coisa: o fato de você ter "ouvido dizer" de pessoa que consideras qualificada não torna o "ouvi dizer" menos "ouvi dizer". Não faça questão de mostrar-se mais tolo do que já se mostrou...

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    4. Segunda coisa: não tenho a intenção de ser, como você, corregedor do Espiritismo. Logo,não vou perder tempo com isso. A sua demonstração já me basta.

      Terceira coisa: Tolice... bem, deixa prá lá.

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  13. Quando morre um autor é bastante comum a expectativa quanto ao seu "baú". E, no "baú", estarão, claro, tanto publicações já superadas ou aquelas que ele nem desejara -- pelo menos "ainda" --, publicar.
    Não vejo (e o público não tem visto) como ofensa à sua memória tais publicações. Desde que, evidentemente, se explique tudo isto. Sem explicação de que se trata de uma edição abandonada e substituída pelo autor, aí sim, acho um desrespeito.
    Desrespeito que o Centro Espírita Léon Denis (e sua Léon Denis Gráfica e Editora) fez com Kardec, publicando a quarta edição de sua Gênese, sem qualquer explicação, como se fosse o texto definitivo.

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    1. Tem razão. Nos casos em que são dadas as devidas explicações, não há desrespeito ao finado autor, ainda que -- fora ele o próprio detentor dos direitos autorais, e fosse eu seu descendente -- jamais permitiria a reedição de uma obra sua abandonada e substituída em vida, a não ser que ele se manifestasse espiritualmente (teria antes que me convencer disso) liberando a publicação.

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    2. Reporto-me a minha primeira colocação: "Ultimamente o que me chama a atenção é o modo como cada um é espírita a seu modo. Vejo espíritas que não acreditam em Deus, espíritas que não são kardecistas, espíritas kardecistas, espíritas que negam Kardec e baseiam na obra de Chico Xavier, etc, etc. A impressão que tenho é que o Espiritismo está definitivamente partido em mil tendências, cada uma sendo espírita a seu modo";

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    3. Repetindo...

      "Todos os modos mencionados de "ser" espírita são válidos conceitualmente se consideramos a definição de "espírita" dada por Kardec no item I da Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, parte inicial de O Livro dos Espíritos. A definição é ampla, e abarca inclusive aqueles que se caracterizam como não kardecistas, ou seja, que não concordam com as considerações de Kardec em sua totalidade. Sendo assim, de fato, o Espiritismo (aquele do item I supramencionado, importante frisar, visto as contradições do próprio Kardec a respeito do termo) abrange mil tendências diversas, mas não porque cada um o interpreta a seu modo, e sim porque a própria definição da palavra permite isso".

      A repetição às vezes surte efeito para os baldos de inteligência...

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    4. Este comentário foi removido pelo autor.

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    5. Retirei o comentário anterior pois saiu com erro ortográfico. É o seguinte: "Belíssima colocação, José Edmar. Concordo plenamente. O problema é que cada um pentencente a um determinado entendimento acha que o entendimento dele é o mais correto." Você, José Edmar, tem o seu. E acha que é correto. Nada contra. É só um entendimento a mais.

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    6. 1- Espíritas kardecistas, espíritas teístas não-kardecistas, espíritas ateus, etc., não cabe dizer que estas coisas decorrem de *entendimentos* do seja Espiritismo, e sim de *posicionamentos* perante um conceito.

      2- Nunca disse que o meu posicionamento, que é o de espírita não-kardecista (entendendo-se pela negativa simplesmente que não endosso *tudo* o que Kardec disse), é o correto.

      3- Não há nada de novo em ser espírita não-kardecista, portanto, não se trata de um posicionamento *a mais*.

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    7. Este comentário foi removido pelo autor.

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    8. 1 - Meu caro Edmar, desculpe-me mas minha postura é sempre questionadora, como a sua também ao que parece. Para você afirmar que se trata de "posicionamento perante um conceito" talvez seja tranquilo. Para mim, no entanto, penso assim: (a) existe um conceito, mesmo nas obras espíritas de Rivail, de "o que é o espiritismo?", ou existem vários? (b) como se posicionar perante um conceito? As respostas a essas indagações obviamente conduzirão a novas indagações. Para mim nada se fecha. A discussão é sempre aporética - ou não é discussão.

      2 - Vê como são as coisas: meu posicionamento também posso dizer, é de espírita não kardecista. Sou espiritualista o que inclusive Rivail também era. Minha postura sempre tem causado incômodo a espíritas mais ortodoxos, das diferentes "posições" e, frequentemente, sou expulso do Espiritismo. Pode? Os espíritas tem dificuldades em conviver com críticas, a não ser aquelas vindas de seu próprio contexto, embora eu me considere pertencente também ao contexto espírita.

      3 - É uma conclusão sua, não minha. Respeito a sua mas, para mim, há essa e várias outras e sempre estou encontrando uma "a mais" que nunca se fecha pois, como eu disse, tudo está sempre em discussão: a questão é aporética.

      Forte abraço. Gostei bastante de seus blogs.

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    9. 1- Respondendo: (a) existem vários. (b) desde que os elementos básicos delimitadores do conceito não sejam contraditos, todo posicionamento é válido.

      2- Esse é um problema realmente muito sério. A falta de entendimento quanto a polissemia de "espiritismo" e a aversão a críticas mostram que essa gente está munida simplesmente de ignorância e medo.

      3- Não, não se trata de uma *conclusão*, mas de um *fato*. E fatos não precisam nem mesmo de respeito. São o que são. E nem tudo está sempre em discussão: fatos são exemplos disso... A aporia não se aplica.

      Um abraço.

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  14. Em tempo: excluí o outro comentário apenas porque havia erro de digitação.

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  15. Eu, em minha insipiência (e, porque não, também incipiência), aplaudo essa observação de que todos os "modos" espíritas são validados por aquela definição de espiritismo que Kardec coloca no começo da Introdução do LE.
    Observação, aliás, que tenho colhido em textos de ambos (Edmar e Margarido), por esses mares virtuais que navegamos.

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  16. Meu caro João Donha, não há em verdade conflito algum entre eu e Edmar. Há malentendido. Tirando os ataques pessoais, o que resta é concordância.

    Focando na questão aludida, penso que se o conceito for tão amplo, o Espiritismo perderá a consistência. Se não estou equivocado, tanto a umbanda e o candomblé como o kardecista mais radical, todos podem ser considerados espíritas dentro dessa colocação.

    Ora, o candomblé e a umbanda são religiões diferentes entre si, embora a segunda tenha derivado da primeira e mantenha com a mesma relações umbilicais. E não obstante os centros de umbanda e candomblé utilizem a designação "espíritas", é controverso caracterizar essas religiões como Espíritas, haja vista que a própria FEB já admitiu, em seus estatutos, ambas religiões como pertencentes ao Espiritismo. E por pressão de seus associados, alterou-o, excluindo-as.

    A religião espírita vem tentando definir identidade própria. É o que percebio internamente nas abordagens de certos "teóricos" na FEESP ou da FEB, por exemplo. Ou ainda nas abordagens feitas em grupos que participei. Primeiro, definindo o Espiritismo como religião. Depois, procurando entender o que seria essa "religião espírita".

    Nesse contexto, definir a identidade é problema, talvez pela formulação originalmente muito abrangente feita por Kardec, como o Edmar disse ou talvez pelo sincretismo com as religiões pre-existentes. Isso ganha complexidade pelas divisões do Espiritismo que se acentuam e concretizam em diferentes centros, federações, grupos, etc, onde cada tendência arvora-se a "dona" da "verdade espírita".

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  17. Eu, com o meu espírito anarquista, adoro a diversidade. Mas, o ideal é que houvesse diversidade com alteridade...

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