quarta-feira, 15 de agosto de 2012

SOBRE O DIÁLOGO COM OS ANTI-RELIGIOSOS II

Mais algumas considerações que me surgiram nas conversas facebookeanas. A coisa é tão simples e tão fácil de compreender. Vamos nos abstrair, por alguns momentos, de toda esta discussão falaciosa, cheia de piadinhas desconectadas e de respostas de efeito plagiadas dos gurus orientais. Vamos a um acontecimento recente, conhecido de todos, para entender as diferenças entre a ciência e o espiritismo pretendido pelos ortodoxos kardecianos. Todos conhecem a NASA. Uma instituição respeitadíssima nos meios acadêmicos, industriais e tecnológicos de todo o mundo, responsável pelos inúmeros avanços da comodidade moderna, conseguidos como sub-produtos de sua exitosa corrida espacial que na semana passada conquistou mais uma vitória colocando um novo equipamento de pesquisa no solo marciano. Pois bem, em dezembro do ano passado a NASA manifestou-se em canais de comunicação que cobriam todo o mundo -- e conseguiu a atenção de todo o mundo --, para comunicar que descobrira uma nova forma de vida num lago americano, vida essa que incorporara em seu DNA o arsênio em lugar do fósforo. Apesar de toda a autoridade conquistada no trabalho árduo anterior, não posaram -- e nem seriam aceitas se tal -- como reveladores cujos conteúdos deveriam ser incontinenti incorporados aos anais doutrinários da ciência. Não. Expuseram ao vivo a síntese do trabalho, e, numa publicação científica -- Science -- detalharam a metodologia empregada, as fundamentações, os testes, os resultados, etc. Imediatamente, vários outros laboratórios e centros de pesquisas puseram-se a reproduzir seus experimentos, a fazer a necessária análise e crítica ao método, a, enfim, tentar confirmar ou refutar os resultados. Dois centros de pesquisas, dois estudos independentes, puseram por terra as afirmações dos eminentes cientistas da NASA, demonstrando exatamente onde estava o erro: a presença mínima de fósforo, tão mínima que desprezada pelos cientistas, era suficiente para manter a forma de vida e sua resistência ao arsênio, tornando-a um extremófilo. Bem, vamos ao espiritismo ortodoxo kardeciano. Seus adeptos (como afirmam categoricamente se tratar de uma ciência, poderíamos dizer: seus "cientistas"), afirmam com ares de certeza que os conteúdos filosóficos e morais de sua doutrina foram transmitidos a Kardec -- rebaixado à condição de simples secretário -- pelos Espíritos Superiores comandados pelo Espírito de Verdade. Quais as fundamentações epistemológicas, a metodologia empregada, os testes, etc., para chegar-se a este resultado? Ah, o Controle Universal do Ensino dos Espíritos! Pulando certas verdades inconvenientes, como o fato de que ciência não se faz de "ensino" e, sim de pesquisa -- a educação é que se faz de "ensino", mas o educador, como dizia o próprio Kardec, é um "revelador secundário", e a ciência é feita pelo "revelador de ponta" -- , ou, ainda, o fato de que um princípio não se torna verdadeiro por eleição ou plebiscito, vamos, por obséquio, aos detalhes da metodologia. É mister uma crítica ao método, a fim de superar suas falhas. Como reproduzimos os experimentos, para verificarmos os resultados? Quais os passos necessários? Foram seguidos? Por quem? Ah, por Kardec. Ele disse que fez assim, que tinha mil centros e coisa e tal, e Kardec é um homem honrado, a sociedade espírita de Paris é respeitável, merecem credibilidade. (Alguém aqui duvida da respeitabilidade da NASA e da honradez das meninas que fizeram o experimento?). Bem, então, por mais honrado que ele seja, suas alegações no Item II da Introdução do ESE não podem ser tomadas como conhecimento científico, uma vez que não há a menor demonstração do método utilizado. Vamos, então, tentar reproduzí-lo? Hoje é difícil, diriam, os médiuns são todos religiosos, têm idéias divergentes, muita liberdade. Será que Kardec os tinha totalmente homogeneizados numa unanimidade nelsonrodrigueana? Não, é que os planos de Deus previam a revelação ali, naquele momento, por isso as condições foram divinamente reunidas; a nós, pobres pósteros, resta o consolo de aceitarmos, acreditarmos, estudarmos humildemente as obviedades ditadas pelos espíritos superiores, e, com isso, "evoluirmos" -- seja lá o que isto signifique. Igualzinho ao caso do Moisés, a quem Deus concedeu apenas duas audiências, e a partir daí a humanidade é que engolisse e praticasse religiosamente suas leis machistas e capitalistas. Ufa! Precisa escrever mais para discorrer sobre as diferenças práticas entre ciência e religião; entre espiritismo e ciência?

2 comentários:

  1. Claro e cristalino. Muito bem, João Donha. Gostei demais!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, José Edmar; principalmente pelas suas seguidas contribuições.

    ResponderExcluir