quarta-feira, 22 de maio de 2013

Algumas rápidas e iniciais considerações sobre as “Reflexões sobre a Ciência Espírita” feitas por A.Xavier.

https://docs.google.com/file/d/0BwP5l2F8N4s3RnBKaW9idHl4RVE/edit?pli=1


Logo de início o autor parece abdicar da possibilidade de uma “ciência espírita” ao exigir a aceitação da existência do Espirito como um “princípio”, dada a inexistência de evidências “diretas” desse novo elemento. A seguir afirma que Kardec se antecipa várias décadas às considerações epistêmicas de seus contemporâneos apenas por dizer que “a ciência é incompetente para tratar do espiritismo”; sem dúvida nenhuma, uma afirmação dogmática, fundamentada apenas no fato de que os cientistas da época queriam reduzir todos os fenomenos a interações dos átomos e princípios elementares da matéria. E, não é exclusivamente neste campo que encontramos as consequencias do fenômeno mediúnico, portanto onde apenas poderemos lidar com ele?
É verdade que o Euclides chegou no barzinho do cais em Alexandria com uma série de “princípios” e disse aos amigos que aceitassem aquilo como verdade axiomática e sobre eles poderiam construir uma ciência. Mas, construíram efetivamente uma ciência que resolveu os problemas geométricos que os homens suscitavam. O “método kardecista” não consegue resolver em definitivo uma coisa tão simples como a existência de colônias no plano espiritual.
Veja o caso dos ovnis e das civilizações extra-terrestres. A ciência “propriamente dita” (para me valer de uma expressão kardeciana), considera que é possível existirem civilizações extra-terrestres. E, em cima deste princípio – que é, na verdade, uma possibilidade – saem procurando as tais civilizações. Você pode efetivamente fundar uma ciência sobre isto. Agora, veja uma outra consideração: existem civilizações extra-terrestres. Em cima deste novo princípio você só pode construir uma ciência hipotética, daquelas que costumam chamar arrogantemente de pseudociência. O primeiro princípio ("é possível que existam") gerou a exobiologia e sei lá que outras ciências. O segundo princípio ("claro que existem") gerou a ufologia. Eu penso que seja mais ou menos essa a diferença que se formou, no início do século XX, entre metapsíquica e espiritismo. De qualquer forma, em termos epistêmicos atualmente disseminados no meio acadêmico, estas duas últimas podem ser encaradas como protociências, que poderão quiçá um dia se tornarem ciências.
Enfim, tanto espiritismo como ufologia exigem crenças; partem de uma certeza; não são buscas, são o estudo de coisas já encontradas. Daí, permanecem válidas para aqueles que viram tais coisas; quem ainda não viu, fica de fora. Como não conseguem fazer ver à maioria dos cientistas, permanecem, na maior concessão, como protociências.

Mais adiante vai aparecer a constatação (desde Kardec) que o método (CUEE) só se aplica aos princípios, não a coisas secundárias. Então, torna-se necessária uma relação exata daquilo que seja princípio, na Doutrina Espírita, e daquilo que seja secundário; penso que esta demanda ainda não foi atendida. E isto tem permitido uma saída pelos fundos: quando se demonstra que a aplicação do método falhou em algum ponto, imediatamente os “cientistas/crentes” retrucam que aquilo não era Doutrina Espírita, eram coisas secundárias. O “ensino” dos espíritos de que a sociedade não pode dar à mulher profissões “rudes”, pois que ela tem que cuidar do “interior”, não é Doutrina; o “ensino” de que a espécie humana surgiu em lugares e épocas diferentes, em “fornadas”, também não é Doutrina. E assim vai, lembrando bem o caso do “dragão na garagem” do Sagan. Então, qualquer discussão sobre a validade do método, ou sobre a atualidade dos princípios espíritas, exige, antes, a definição exata desses princípios.

Voltaremos ao assunto.

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