terça-feira, 11 de abril de 2023

KARDEC E A TERAPÊUTICA ESPÍRITA.

Tenho lido, repetidas vezes, afirmações de que as práticas terapêuticas disseminadas pelos nossos centros (água fluidificada, passe e desobsessão) seriam criações do espiritismo brasileiro. Não. Como muitas outras coisas cujas origens são questionadas, essas práticas são também de responsabilidade de Kardec. Senão, vejâmo-las em citações do mestre lionês.

Justificativa da terapia espírita

"As doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida terrena; são inerentes à grosseria da nossa natureza material e à inferioridade do mundo que habitamos. As paixões e os excessos de toda ordem semeiam em nós germens malsãos, às vezes hereditários. Nos mundos mais adiantados, física ou moralmente, o organismo humano, mais depurado e menos material, não está sujeito às mesmas enfermidades e o corpo não é minado surdamente pelo corrosivo das paixões. (Cap. III, n° 9.) Temos, assim, de nos resignar às conseqüências do meio onde nos coloca a nossa inferioridade, até que mereçamos passar a outro. Isso, no entanto, não é de molde a impedir que, esperando tal se dê, façamos o que de nós depende para melhorar as nossas condições atuais. Se, porém, mau grado aos nossos esforços, não o conseguirmos, o Espiritismo nos ensina a suportar com resignação os nossos passageiros males. Se Deus não houvesse querido que os sofrimentos corporais se dissipassem ou abrandassem em certos casos, não houvera posto ao nosso alcance meios de cura. A esse respeito, a sua solicitude, em conformidade com o instinto de conservação, indica que é dever nosso procurar esses meios e aplicá-los.A par da medicação ordinária, elaborada pela Ciência, o magnetismo nos dá a conhecer o poder da ação fluídica e o Espiritismo nos revela outra força poderosa na mediunidade curadora e a influência da prece. (Ver, no Cap. XXVI, a notícia sobre a mediunidade curadora.)"(1)

Fluidoterapia: água fluidificada e passe

"Pode (o Espírito), pela ação da sua vontade, operar na matéria elementar uma transformação íntima, que lhe confira determinadas propriedades. Esta faculdade é inerente à natureza do Espírito, que muitas vezes a exerce de modo instintivo, quando necessário, sem disso se aperceber. A existência de uma matéria elementar única está hoje quase geralmente admitida pela Ciência, e os Espíritos, como se acaba de ver, a confirmam. Todos os corpos da Natureza nascem dessa matéria que, pelas transformações por que passa,também produz as diversas propriedades desses mesmos corpos. Daí vem que uma substância salutar pode, por efeito de simples modificação, tornar-se venenosa, fato deque a Química nos oferece numerosos exemplos. Toda gente sabe que, combinadas em certas proporções, duas substâncias inocentes podem dar origem a uma que seja deletéria. Uma parte de oxigênio e duas de hidrogênio, ambos inofensivos, formam a água. Juntai um átomo de oxigênio e tereis um liquido corrosivo.Sem mudança nenhuma das proporções, às vezes, a simples alteração no modo de agregação molecular basta para mudar as propriedades. Assim é que um corpo opaco pode tornar-se transparente e vice-versa. Pois que ao Espírito é possível tão grande ação sobre a matéria elementar, concebe-se que lhe seja dado não só formar substâncias, mas também modificar-lhes as propriedades, fazendo para isto a sua vontade o efeito de reativo.Esta teoria nos fornece a solução de um fato bem conhecido em magnetismo, mas inexplicado até hoje: o da mudança das propriedades da água, por obra da vontade. O Espírito atuante é o do magnetizador, quase sempre assistido por outro Espírito.Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético que, como atrás dissemos, é a substância que mais se aproxima da matéria cósmica, ou elemento universal. Ora, desde que ele pode operar uma modificação nas propriedades da água,pode também produzir um fenômeno análogo com os fluidos do organismo, donde o efeito curativo da ação magnética, convenientemente dirigida.Sabe-se que papel capital desempenha a vontade em todos os fenômenos do magnetismo. Porém, como se há de explicar a ação material de tão sutil agente? A vontade não é um ser, uma substância qualquer; não é, sequer, uma propriedade da matéria mais etérea que exista. A vontade é atributo essencial do Espírito, isto é, do ser pensante. Com o auxílio dessa alavanca, ele atua sobre a matéria elementar e, por uma ação consecutiva, reage sobre seus compostos, cujas propriedades íntimas vêm assim a ficar transformadas.Tanto quanto do Espírito errante, a vontade é igualmente atributo do Espírito encarnado; daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão direta da força de vontade. Podendo o Espírito encarnado atuar sobre a matéria elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de certos limites. Assim se explica a faculdade de cura pelo contacto e pela imposição das mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau mais ou menos elevado. (Veja-se, no capítulo dos Médiuns, o parágrafo referente aos Médiuns curadores. Veja-se também a Revue Spirite, de julho de 1859, págs. 184 e 189: O zuavo de Magenta; Um oficial do exército da Itália.)" (2)

Costumam argumentar que tais citações referem-se aos magnetizadores e, não, aos espíritas comuns, trabalhadores de nossos centros. De novo, não. Além dessa profissão de "magnetizador", existente no tempo de Kardec, ter desaparecido, e sua prática ter sido historicamente absorvida pelos espíritas, temos afirmações dele próprio que justificam tal acontecimento:

"Médiuns curadores. Os que têm o poder de curar ou aliviar pela imposição das mãos ou pela prece. 'Esta faculdade não é essencialmente mediúnica: pertence a todos os verdadeiros crentes, sejam médiuns ou não; muitas vezes não passa de uma exaltação da força magnética fortificada, caso necessário, pelo concurso dos bons Espíritos.' (n.175)." (3)

Desobsessão

Pelas citações abaixo, vemos que Kardec, ao contrário do que se acredita, não preconiza o tratamento da obsessão apenas em relação aos médiuns, mas, sim, para todo e qualquer indivíduo que o necessite. E os passos são aqueles conhecidos dos espíritas da atualidade: esclarecimento do obsidiado, fluidoterapia ("mediante ação idêntica à do médium curador") e, esclarecimento e convencimento do espírito obsessor, "em evocações particulares".

"A obsessão é a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Oblitera todas as faculdades mediúnicas; traduz-se, na mediunidade escrevente, pela obstinação de um Espírito em se manifestar, com exclusão de todos os outros.Os Espíritos maus pululam em torno da Terra, em virtude da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja que eles desenvolvem faz parte dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão, como as enfermidades e todas as tribulações da vida, deve ser considerada prova ou expiação e como tal aceita.Do mesmo modo que as doenças resultam das imperfeições físicas, que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é sempre o resultado de uma imperfeição moral, que dá acesso a um Espírito mau. A causas físicas se opõem forças físicas; a uma causa moral, tem-se de opor uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortifica-se o corpo; para isentá-lo da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para o livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre-arbítrio. Quase sempre, a obsessão exprime a vingança que um Espírito tira e que com freqüência se radica nas relações que o obsidiado manteve com ele em precedente existência. (Veja-se: Cap. X, n° 6; cap. XII, n° 5 e n° 6.)Nos casos de obsessão grave, o obsidiado se acha como que envolvido e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É desse fluido que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluido mau não pode ser eliminado por outro fluido mau. Mediante ação idêntica à do médium curador nos casos de enfermidade, cumpre se elimine o fluido mau com o auxílio de um fluido melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um reativo. Esta a ação mecânica, mas que não basta; necessário, sobretudo, é que se atue sobre o ser inteligente, ao qual importa se possa falar com autoridade, que só existe onde há superioridade moral. Quanto maior for esta, tanto maior será igualmente a autoridade. E não é tudo: para garantir-se a libertação, cumpre induzir o Espírito perverso a renunciar aos seus maus desígnios; fazer que nele despontem o arrependimento e o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações particulares, objetivando a sua educação moral. Pode-se então lograr a dupla satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito.A tarefa se apresenta mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação,presta o concurso da sua vontade e da sua prece. O mesmo não se dá, quando, seduzido pelo Espírito embusteiro, ele se ilude no tocante às qualidades daquele que o domina e se compraz no erro em que este último o lança, visto que, então, longe de secundar, repele toda assistência, É o caso da fascinação, infinitamente mais rebelde do que a mais violenta subjugação. (O Livro aos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII.)Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar de quem haja de atuar sobre o Espírito obsessor."
"Observação. - A cura das obsessões graves requer muita paciência, perseverança e devotamento. Exige também tato e habilidade, a fim de encaminhar para o bem Espíritos muitas vezes perversos, endurecidos e astuciosos, porquanto há-os rebeldes ao extremo. Na maioria dos casos, temos de nos guiar pelas circunstâncias. Qualquer que seja, porém, o caráter do Espírito, nada se obtém, é isto um fato incontestável pelo constrangimento ou pela ameaça. Toda influência reside no ascendente moral. Outra verdade igualmente comprovada pela experiência tanto quanto pela lógica, é a completa ineficácia dos exorcismos, fórmulas, palavras sacramentais, amuletos, talismãs, práticas exteriores, ou quaisquer sinais materiais. A obsessão muito prolongada pode ocasionar desordens patológicas e reclama, por vezes, tratamento simultâneo ou consecutivo, quer magnético, quer médico, para restabelecer a saúde do organismo. Destruída a causa, resta combater os efeitos. (Veja-se: O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII - "Da obsessão". - Revue Spirite, fevereiro e março de 1864; abril de 1865: exemplos de curas de obsessões.)" (4)

(1) ESE, XXVIII, 77.
(2) LM, 129, 130, 131.
(3) LM, 189.
(4) ESE, XXVIII, 81.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

"ADULTERAÇÃO" DA GÊNESE: TEORIA CONSPIRATÓRIA QUE NÃO FOI SEGUIDA PELOS PIONEIROS DELANNE, DENIS E, PASMEM, FOI ABANDONADA PELO PRÓPRIO SAUSSE!


Os pioneiros do Espiritismo -- contemporâneos e seguidores imediatos do fundador da Doutrina Espírita -- NÃO ADERIRAM À FALSA TEORIA que pretende desmerecer o árduo trabalho do autor na revisão de sua obra transformando-a numa "terrível conspiração das trevas". Os pesquisadores dos grupos AllanKardec.online, CSI do Espiritismo e Obrasdekardec -- num exemplo de como deve ser feita a historiografia: isenta, sem preconceitos ou intenções obscuras -- descobriram, em fontes primárias, as informações que confirmam o afirmado no título. Transcrevemos a seguir, in totum, o artigo do site https://www.facebook.com/allankardec.online/, a respeito:

𝐎 𝐮𝐬𝐨 𝐝𝐚 𝐞𝐝𝐢𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐚𝐥𝐭𝐞𝐫𝐚𝐝𝐚 𝐝𝐞 𝐀 𝐆𝐞̂𝐧𝐞𝐬𝐞 𝐞𝐦 𝐨𝐛𝐫𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐆𝐚𝐛𝐫𝐢𝐞𝐥 𝐃𝐞𝐥𝐚𝐧𝐧𝐞, 𝐋𝐞́𝐨𝐧 𝐃𝐞𝐧𝐢𝐬 𝐞 𝐩𝐞𝐥𝐨 𝐩𝐫𝐨́𝐩𝐫𝐢𝐨 𝐇𝐞𝐧𝐫𝐢 𝐒𝐚𝐮𝐬𝐬𝐞
𝐈𝐧𝐭𝐫𝐨𝐝𝐮𝐜̧𝐚̃𝐨
Já havíamos mostrado em pesquisas anteriores que os continuadores mais próximos de Allan Kardec, também chamados de pioneiros do Espiritismo, fizeram uso da edição alterada de A Gênese, em vários artigos encontrados em jornais espíritas da época, demonstrando que não houve prosseguimento à denúncia efetuada por Henri Sausse, no jornal Le Spiritisme de dezembro de 1884. Lembrando que os esclarecimentos sobre o apurado por Sausse foram prestados tanto no jornal Le Spiritisme como na Revue Spirite.
Entre os artigos encontrados, constatamos que Gabriel Delanne utilizou textos existentes somente na 5ª edição de A Gênese, apenas dois anos após a referida denúncia, em seu artigo denominado “Dissertation”. Publicado nas páginas 236 e 237, o redator chefe – Gabriel Delanne – do jornal Le Spiritisme de número 22 – 4º ano, segunda quinzena de janeiro de 1887 - traz os itens/parágrafos 15 a 20 do Capítulo XVIII da 5ª edição de A Gênese (que segundo Sausse seria o mais maltratado), onde destacamos a sua observação:
“𝑷𝒖𝒃𝒍𝒊𝒄𝒂𝒎𝒐𝒔 𝒆𝒔𝒕𝒂𝒔 𝒍𝒊𝒏𝒉𝒂𝒔, 𝒆𝒔𝒄𝒓𝒊𝒕𝒂𝒔 𝒉𝒂́ 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒅𝒆 𝒗𝒊𝒏𝒕𝒆 𝒂𝒏𝒐𝒔, 𝒂 𝒇𝒊𝒎 𝒅𝒆 𝒎𝒐𝒔𝒕𝒓𝒂𝒓 𝒒𝒖𝒆 𝑨𝒍𝒍𝒂𝒏 𝑲𝒂𝒓𝒅𝒆𝒄 𝒏𝒂̃𝒐 𝒆𝒔𝒕𝒂𝒗𝒂 𝒂𝒕𝒓𝒂𝒔𝒂𝒅𝒐 𝒆𝒎 𝒔𝒖𝒂𝒔 𝒊𝒅𝒆𝒊𝒂𝒔 𝒆 𝒒𝒖𝒆 𝒔𝒖𝒂𝒔 𝒐𝒃𝒓𝒂𝒔 𝒏𝒂̃𝒐 𝒆𝒏𝒗𝒆𝒍𝒉𝒆𝒄𝒆𝒎.”
No jornal “Progrès Spirite” (criado e dirigido por Gabriel Delanne) de número 8 - 2º ano – de agosto de 1896 – na página 117, datado de 15 de setembro de 1912, nas páginas 129 a 138, no artigo denominado “Les créations matérialisées de la Pensée”, Delanne transcreve os parágrafos 13 a 15 do Capítulo XIV da 5ª edição de A Gênese, que trata da Fotografia do Pensamento, e usa esta teoria de Allan Kardec para fundamentar as teorias de materializações do pensamento, citando as experiências de Crookes (Katie King). No artigo, Delanne se propõe a mostrar que as observações ocorridas por cinquenta anos confirmariam as ideias do mestre.
O mesmo é verificado por parte do Sr. Auzanneau, ex-presidente da SPEE no biênio 1884/1885.
O mesmo é constatado com o Sr. Adolphe Laurent de Faget. Através das pesquisas bibliográficas realizadas, principalmente, nos periódicos “Le Spiritisme”, “Progrès Spirite” e “Revue Scientifique et Morale du Spiritisme”, constamos que Faget gozava de prestígio e confiança de pessoas como Léon Denis, Sophie Rozen, Gabriel Delanne, Alexandre Delanne, Henri Sausse e outras personalidades que ajudaram a resgatar e propagar a doutrina espírita e a memória de Allan Kardec. Encontramos várias citações em diversos artigos nestes periódicos, que fizeram referências e uso de textos só existentes na 5ª edição. Não existe em todo o levantamento nos vários periódicos, efetuado no período de 1897 a 1911, qualquer menção a um caráter místico do conteúdo da edição alterada, ou mesmo, colocando em dúvida a autoria da 5ª edição. Ao contrário, em várias oportunidades é mencionado que os textos utilizados seriam efetivamente de Allan Kardec.
Apresentamos, em pesquisa datada de 25 de abril de 2021, que o próprio Henri Sausse fez uso na Revue Spirite de 1914, em seu artigo “A Doutrina Espírita – Os ensinamentos de Allan Kardec” (La Doctrine Spirite – Les Enseignements d’Allan Kardec), que visava contrapor explicações estranhas ao pensamento do Espiritismo sobre alguns temas. Para tal, ele utilizou como argumento trechos das obras de Allan Kardec que contém os ensinamentos sobre os temas que abordou, conforme a doutrina. Este artigo foi publicado em seis partes, em março (p. 164-166), abril (p. 220-225), maio (p. 274-278); junho (p. 346-351), julho (p. 423-428) e agosto/setembro (p. 466-471). Na quinta e na sexta parte, Sausse utiliza como referência capítulos e respectivas páginas que correspondem à 5ª edição de A Gênese, e aos capítulos Capítulo XI – Genèse spirituelle, indicando a página 224 de A Gênese. Esta é página na qual inicia, na 5ª edição, o capítulo citado, enquanto nas edições anteriores tal capítulo se inicia na página 220. Outro capítulo citado foi o XIV – Les Fluides, recomendando a leitura do capítulo completo, nas páginas 301 a 341. Esse capítulo, na 5ª edição, inicia e termina exatamente nas páginas indicadas, enquanto nas edições anteriores ele está localizado nas páginas 292 a 328.
𝐕𝐚́𝐫𝐢𝐚𝐬 𝐨𝐛𝐫𝐚𝐬 𝐞 𝐝𝐢𝐟𝐞𝐫𝐞𝐧𝐭𝐞𝐬 𝐚𝐮𝐭𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐮𝐭𝐢𝐥𝐢𝐳𝐚𝐫𝐚𝐦 𝐨𝐬 𝐭𝐞𝐱𝐭𝐨𝐬 𝐚𝐥𝐭𝐞𝐫𝐚𝐝𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐀 𝐆𝐞̂𝐧𝐞𝐬𝐞
As pesquisas anteriores se limitaram ao levantamento efetuado nos vários periódicos espíritas da época e na própria Revista Espírita. Agora, apresentaremos algumas informações constantes em obras de vários dos continuadores pioneiros do Espiritismo.
Em 1911, Delanne publica a obra “Les Apparitions matérialisées des vivants et des morts – Tome II [3]. No capítulo V- L’Identité des apparitions matérialisées - Apparitions reconnues à des signes particuliers – na página 10 - encontramos a transcrição do parágrafo 14 do capítulo XIV – Les Fuides – existente na edição alterada de A Gênese, inclusive com a nota de rodapé mencionando a página da edição alterada.
Em 1924, Gabriel Delanne publicou o livro “Documents pour servir à l’étude de la reincarnation” [4]. No capítulo III – encontramos nas páginas 74 e 75, o subtítulo Nécessité de l’incarnation terrestre e a transcrição do parágrafo 23 do capítulo XI da edição alterada de A Gênese, inclusive com uma nota de rodapé indicando a respectiva página só encontrada nesta edição alterada. Nas páginas 76 e 77, encontramos a transcrição de grande parte do parágrafo 34 do capítulo XI, com textos exclusivos da 5ª edição, além da existência de uma nota de rodapé com a respectiva página encontrada na edição alterada.
Em 1905, Léon Denis publica a obra “Le problème de l’être et de la destinée” [5]. No capítulo II – Le criterium de la doctrine des esprits (página 32 e 33 do original em francês), encontramos para a fundamentação de uma afirmação de Léon Denis, a referência feita em nota de rodapé, o parágrafo 6 do capítulo XIV – Les Fluides – com os textos exclusivos da edição alterada de A Gênese, inclusive com a referência da página onde o texto é encontrado na edição alterada.
Finalmente, vamos tratar da obra publicada em 1918 por Henri Sausse, já abordada preliminarmente em 1º de maio de 2021 pelo CSI do Espiritismo - https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/posts/943846989712417: o livro “La reincarnation selon le Spiritisme – Enseignements d’Allan Kardec” [6].
Este livro é anunciado na Revue Spirit de 1924, na página 382, [7] da seguinte maneira:
“Reencarnação segundo o Espiritismo, de H Sausse. - (Ensinamentos de Allan Kardec.) - À venda em Editions B. P. S., 8, rue Copernic, Paris.
O autor declara nas primeiras páginas: “Um desejo que muitas vezes me foi manifestado durante os quarenta anos em que desempenhei as funções de secretário-geral da Fédération Spirite lyonnaise é este: Não seria útil reunir em numa só obra todos os pontos da Doutrina que, nas obras de Allan Kardec e Léon Denis, se relacionam com a Reencarnação? ... Esta é certamente uma lacuna a ser preenchida”
A lacuna agora está preenchida, e de uma forma magistral, que faz a maior honra ao compilador, cujo alto valor e o profundo conhecimento das verdades espíritas se consolidou em obras justamente apreciadas: Espérance et courage, Le Spiritisme à Lyon, Biographie d’Allan Kardec, Biographie de Léon Denis, Des preuves, etc. etc. As vidas sucessivas (segundo a obra do Coronel de Rochas); esquecimento e memória parcial do passado (segundo Allan Kardec); a pluralidade das existências corporais; a justiça da Reencarnação nos diferentes mundos; o destino dos filhos após a morte, e a dos Espíritos errantes; a escolha das provas; o regresso à vida; os limites da encarnação, bem como a sua necessidade; a ideia da reencarnação na antiguidade e em várias partes do mundo; tantos problemas, entre outros, cuja solução se encontra mais uma vez neste trabalho.
Síntese que os espíritas, os hesitantes e os incrédulos consultarão com igual interesse. A última estrofe do poema inspirado, Por quê? com a qual o Sr. Henri Sausse pontua seu livro, poderia muito bem servir como uma epígrafe:
𝐷𝑒𝑖𝑥𝑒-𝑛𝑜𝑠 𝑠𝑎𝑏𝑒𝑟 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝑎𝑝𝑟𝑜𝑣𝑒𝑖𝑡𝑎𝑟 𝑐𝑎𝑑𝑎 𝑛𝑜𝑣𝑜 𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑒𝑐𝑒𝑟,
𝐸 𝑒𝑠𝑡𝑎 𝑔𝑟𝑎𝑛𝑑𝑒 𝑙𝑒𝑖 𝑞𝑢𝑒 𝑛𝑎̃𝑜 𝑝𝑜𝑑𝑒 𝑠𝑒𝑟 𝑞𝑢𝑒𝑏𝑟𝑎𝑑𝑎:
𝑁𝑎𝑠𝑐𝑒𝑟, 𝑚𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟, 𝑟𝑒𝑛𝑎𝑠𝑐𝑒𝑟 𝑒 𝑑𝑒𝑝𝑜𝑖𝑠 𝑚𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟 𝑛𝑜𝑣𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒.
𝑃𝑎𝑟𝑎, 𝑛𝑜𝑣𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒, 𝑟𝑒𝑛𝑎𝑠𝑐𝑒𝑟 𝑒 𝑠𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑔𝑟𝑒𝑑𝑖𝑟”
Nesta obra de Henri Sausse, encontramos a transcrição dos textos alterados de A Gênese, para fundamentar os ensinamentos de Allan Kardec, a saber:
Transcrição integral dos parágrafos 33 e 34 (La Reincarnation) – página 242 - do capítulo XI – Genèse Spirituelle. Destacamos que estes parágrafos foram modificados na 5ª edição de A Gênese, inclusive com textos acrescentados no parágrafo 34, que foram relacionados por Sausse em sua denúncia de 1884;
Transcrição do parágrafo 31 do mesmo capítulo, com textos que foram alterados e se encontram somente na edição alterada.
𝐂𝐨𝐧𝐜𝐥𝐮𝐬𝐚̃𝐨
Muito tem se afirmado sobre a denúncia de Henri Sausse sobre a adulteração de A Gênese, e que esta havia sido endossada por espíritas refratários aos desvios ocorridos no movimento espírita francês. As fontes primárias e as pesquisas até agora efetuadas, colocam, como hipótese mais provável, Allan Kardec como sendo o autor das alterações encontradas nesta obra.
Em nossas pesquisas, este suposto endosso dos continuadores do Espiritismo à denúncia de Sausse não se confirma pelas fontes históricas. O que vemos é que não houve confirmação e aceitação deste suposto fato, e que notoriamente, é constatado o uso da edição alterada por parte dos principais continuadores e pioneiros do Espiritismo: Gabriel Delanne, Lèon Denis, Laurent de Faget, entre outros.
Esta última obra de Henri Sausse, juntamente com a pesquisa que publicamos em 25 de abril de 2021, nos permite afirmar que a denúncia de 1884, sobre a suposta adulteração, não teve prosseguimento, nem tampouco obteve eco no movimento espírita francês. E, verificamos que o próprio Sausse se utiliza da edição alterada para fundamentar pontos doutrinários em diferentes ocasiões. Pelo menos, é o que nos diz a sua última obra e a sua declaração na Revue Spirite de 1924, página 382:
“𝑵𝒂̃𝒐 𝒔𝒆𝒓𝒊𝒂 𝒖́𝒕𝒊𝒍 𝒓𝒆𝒖𝒏𝒊𝒓 𝒆𝒎 𝒏𝒖𝒎𝒂 𝒔𝒐́ 𝒐𝒃𝒓𝒂 𝒕𝒐𝒅𝒐𝒔 𝒐𝒔 𝒑𝒐𝒏𝒕𝒐𝒔 𝒅𝒂 𝑫𝒐𝒖𝒕𝒓𝒊𝒏𝒂 𝒒𝒖𝒆, 𝒏𝒂𝒔 𝒐𝒃𝒓𝒂𝒔 𝒅𝒆 𝑨𝒍𝒍𝒂𝒏 𝑲𝒂𝒓𝒅𝒆𝒄 𝒆 𝑳𝒆́𝒐𝒏 𝑫𝒆𝒏𝒊𝒔, 𝒔𝒆 𝒓𝒆𝒍𝒂𝒄𝒊𝒐𝒏𝒂𝒎 𝒄𝒐𝒎 𝒂 𝑹𝒆𝒆𝒏𝒄𝒂𝒓𝒏𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐?
Esta pesquisa foi efetuada em parceria com o CSI do Espiritismo e www.ObrasdeKardec.com.br.
Referências:
1. Jornal de Spiritisme – 1883-1884; 1884-1885; 1885-1886; 1886-1887 -1887-1888 – 1889 e 1890 -https://sites.google.com/.../revue.../revue-le-spiritisme...;
3. Delanne, Gabriel - “Les Apparitions materialisees des vivants et des morts – Tome II” - https://www.cslak.fr/.../Les_apparitions_materialisees...;
4. Delanne, Gabriel - Documents pour servir à l’étude de la reincarnation https://www.cslak.fr/.../Gabriel.../La_Reincarnation.pdf;
5. Denis, Léon - “Le problème de l’être et de la destinée” - https://gallica.bnf.fr/.../bpt6k5681738t/f41.item.texteImage;
6. Sausse, Henri - La reincarnation selon le Spiritisme – Enseignements d’Allan Kardec - https://www.cslak.fr/.../la_reincarnation_Henri_Sausse.pdf;
7. Revue Spirite 1924 – página 382 - https://www.retronews.fr/.../1-aout-1924/1829/3430573/48...
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𝐎 𝐮𝐬𝐨 𝐝𝐚 𝐞𝐝𝐢𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐚𝐥𝐭𝐞𝐫𝐚𝐝𝐚 𝐝𝐞 𝐀 𝐆𝐞̂𝐧𝐞𝐬𝐞 𝐞𝐦 𝐨𝐛𝐫𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐆𝐚𝐛𝐫𝐢𝐞𝐥 𝐃𝐞𝐥𝐚𝐧𝐧𝐞, 𝐋𝐞́𝐨𝐧 𝐃𝐞𝐧𝐢𝐬 𝐞 𝐩𝐞𝐥𝐨 𝐩𝐫𝐨́𝐩𝐫𝐢𝐨 𝐇𝐞𝐧𝐫𝐢 𝐒𝐚𝐮𝐬𝐬𝐞
𝐈𝐧𝐭𝐫𝐨𝐝𝐮𝐜̧𝐚̃𝐨
Já havíamos mostrado em pesquisas anteriores que os continuadores mais próximos de Allan Kardec, também chamados de pioneiros do Espiritismo, fizeram uso da edição alterada de A Gênese, em vários artigos encontrados em jornais espíritas da época, demonstrando que não houve prosseguimento à denúncia efetuada por Henri Sausse, no jornal Le Spiritisme de dezembro de 1884. Lembrando que os esclarecimentos sobre o apurado por Sausse foram prestados tanto no jornal Le Spiritisme como na Revue Spirite.
Entre os artigos encontrados, constatamos que Gabriel Delanne utilizou textos existentes somente na 5ª edição de A Gênese, apenas dois anos após a referida denúncia, em seu artigo denominado “Dissertation”. Publicado nas páginas 236 e 237, o redator chefe – Gabriel Delanne – do jornal Le Spiritisme de número 22 – 4º ano, segunda quinzena de janeiro de 1887 - traz os itens/parágrafos 15 a 20 do Capítulo XVIII da 5ª edição de A Gênese (que segundo Sausse seria o mais maltratado), onde destacamos a sua observação:
“𝑷𝒖𝒃𝒍𝒊𝒄𝒂𝒎𝒐𝒔 𝒆𝒔𝒕𝒂𝒔 𝒍𝒊𝒏𝒉𝒂𝒔, 𝒆𝒔𝒄𝒓𝒊𝒕𝒂𝒔 𝒉𝒂́ 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒅𝒆 𝒗𝒊𝒏𝒕𝒆 𝒂𝒏𝒐𝒔, 𝒂 𝒇𝒊𝒎 𝒅𝒆 𝒎𝒐𝒔𝒕𝒓𝒂𝒓 𝒒𝒖𝒆 𝑨𝒍𝒍𝒂𝒏 𝑲𝒂𝒓𝒅𝒆𝒄 𝒏𝒂̃𝒐 𝒆𝒔𝒕𝒂𝒗𝒂 𝒂𝒕𝒓𝒂𝒔𝒂𝒅𝒐 𝒆𝒎 𝒔𝒖𝒂𝒔 𝒊𝒅𝒆𝒊𝒂𝒔 𝒆 𝒒𝒖𝒆 𝒔𝒖𝒂𝒔 𝒐𝒃𝒓𝒂𝒔 𝒏𝒂̃𝒐 𝒆𝒏𝒗𝒆𝒍𝒉𝒆𝒄𝒆𝒎.”
No jornal “Progrès Spirite” (criado e dirigido por Gabriel Delanne) de número 8 - 2º ano – de agosto de 1896 – na página 117, datado de 15 de setembro de 1912, nas páginas 129 a 138, no artigo denominado “Les créations matérialisées de la Pensée”, Delanne transcreve os parágrafos 13 a 15 do Capítulo XIV da 5ª edição de A Gênese, que trata da Fotografia do Pensamento, e usa esta teoria de Allan Kardec para fundamentar as teorias de materializações do pensamento, citando as experiências de Crookes (Katie King). No artigo, Delanne se propõe a mostrar que as observações ocorridas por cinquenta anos confirmariam as ideias do mestre.
O mesmo é verificado por parte do Sr. Auzanneau, ex-presidente da SPEE no biênio 1884/1885.
O mesmo é constatado com o Sr. Adolphe Laurent de Faget. Através das pesquisas bibliográficas realizadas, principalmente, nos periódicos “Le Spiritisme”, “Progrès Spirite” e “Revue Scientifique et Morale du Spiritisme”, constamos que Faget gozava de prestígio e confiança de pessoas como Léon Denis, Sophie Rozen, Gabriel Delanne, Alexandre Delanne, Henri Sausse e outras personalidades que ajudaram a resgatar e propagar a doutrina espírita e a memória de Allan Kardec. Encontramos várias citações em diversos artigos nestes periódicos, que fizeram referências e uso de textos só existentes na 5ª edição. Não existe em todo o levantamento nos vários periódicos, efetuado no período de 1897 a 1911, qualquer menção a um caráter místico do conteúdo da edição alterada, ou mesmo, colocando em dúvida a autoria da 5ª edição. Ao contrário, em várias oportunidades é mencionado que os textos utilizados seriam efetivamente de Allan Kardec.
Apresentamos, em pesquisa datada de 25 de abril de 2021, que o próprio Henri Sausse fez uso na Revue Spirite de 1914, em seu artigo “A Doutrina Espírita – Os ensinamentos de Allan Kardec” (La Doctrine Spirite – Les Enseignements d’Allan Kardec), que visava contrapor explicações estranhas ao pensamento do Espiritismo sobre alguns temas. Para tal, ele utilizou como argumento trechos das obras de Allan Kardec que contém os ensinamentos sobre os temas que abordou, conforme a doutrina. Este artigo foi publicado em seis partes, em março (p. 164-166), abril (p. 220-225), maio (p. 274-278); junho (p. 346-351), julho (p. 423-428) e agosto/setembro (p. 466-471). Na quinta e na sexta parte, Sausse utiliza como referência capítulos e respectivas páginas que correspondem à 5ª edição de A Gênese, e aos capítulos Capítulo XI – Genèse spirituelle, indicando a página 224 de A Gênese. Esta é página na qual inicia, na 5ª edição, o capítulo citado, enquanto nas edições anteriores tal capítulo se inicia na página 220. Outro capítulo citado foi o XIV – Les Fluides, recomendando a leitura do capítulo completo, nas páginas 301 a 341. Esse capítulo, na 5ª edição, inicia e termina exatamente nas páginas indicadas, enquanto nas edições anteriores ele está localizado nas páginas 292 a 328.
𝐕𝐚́𝐫𝐢𝐚𝐬 𝐨𝐛𝐫𝐚𝐬 𝐞 𝐝𝐢𝐟𝐞𝐫𝐞𝐧𝐭𝐞𝐬 𝐚𝐮𝐭𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐮𝐭𝐢𝐥𝐢𝐳𝐚𝐫𝐚𝐦 𝐨𝐬 𝐭𝐞𝐱𝐭𝐨𝐬 𝐚𝐥𝐭𝐞𝐫𝐚𝐝𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐀 𝐆𝐞̂𝐧𝐞𝐬𝐞
As pesquisas anteriores se limitaram ao levantamento efetuado nos vários periódicos espíritas da época e na própria Revista Espírita. Agora, apresentaremos algumas informações constantes em obras de vários dos continuadores pioneiros do Espiritismo.
Em 1911, Delanne publica a obra “Les Apparitions matérialisées des vivants et des morts – Tome II [3]. No capítulo V- L’Identité des apparitions matérialisées - Apparitions reconnues à des signes particuliers – na página 10 - encontramos a transcrição do parágrafo 14 do capítulo XIV – Les Fuides – existente na edição alterada de A Gênese, inclusive com a nota de rodapé mencionando a página da edição alterada.
Em 1924, Gabriel Delanne publicou o livro “Documents pour servir à l’étude de la reincarnation” [4]. No capítulo III – encontramos nas páginas 74 e 75, o subtítulo Nécessité de l’incarnation terrestre e a transcrição do parágrafo 23 do capítulo XI da edição alterada de A Gênese, inclusive com uma nota de rodapé indicando a respectiva página só encontrada nesta edição alterada. Nas páginas 76 e 77, encontramos a transcrição de grande parte do parágrafo 34 do capítulo XI, com textos exclusivos da 5ª edição, além da existência de uma nota de rodapé com a respectiva página encontrada na edição alterada.
Em 1905, Léon Denis publica a obra “Le problème de l’être et de la destinée” [5]. No capítulo II – Le criterium de la doctrine des esprits (página 32 e 33 do original em francês), encontramos para a fundamentação de uma afirmação de Léon Denis, a referência feita em nota de rodapé, o parágrafo 6 do capítulo XIV – Les Fluides – com os textos exclusivos da edição alterada de A Gênese, inclusive com a referência da página onde o texto é encontrado na edição alterada.
Finalmente, vamos tratar da obra publicada em 1918 por Henri Sausse, já abordada preliminarmente em 1º de maio de 2021 pelo CSI do Espiritismo - https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/posts/943846989712417: o livro “La reincarnation selon le Spiritisme – Enseignements d’Allan Kardec” [6].
Este livro é anunciado na Revue Spirit de 1924, na página 382, [7] da seguinte maneira:
“Reencarnação segundo o Espiritismo, de H Sausse. - (Ensinamentos de Allan Kardec.) - À venda em Editions B. P. S., 8, rue Copernic, Paris.
O autor declara nas primeiras páginas: “Um desejo que muitas vezes me foi manifestado durante os quarenta anos em que desempenhei as funções de secretário-geral da Fédération Spirite lyonnaise é este: Não seria útil reunir em numa só obra todos os pontos da Doutrina que, nas obras de Allan Kardec e Léon Denis, se relacionam com a Reencarnação? ... Esta é certamente uma lacuna a ser preenchida”
A lacuna agora está preenchida, e de uma forma magistral, que faz a maior honra ao compilador, cujo alto valor e o profundo conhecimento das verdades espíritas se consolidou em obras justamente apreciadas: Espérance et courage, Le Spiritisme à Lyon, Biographie d’Allan Kardec, Biographie de Léon Denis, Des preuves, etc. etc. As vidas sucessivas (segundo a obra do Coronel de Rochas); esquecimento e memória parcial do passado (segundo Allan Kardec); a pluralidade das existências corporais; a justiça da Reencarnação nos diferentes mundos; o destino dos filhos após a morte, e a dos Espíritos errantes; a escolha das provas; o regresso à vida; os limites da encarnação, bem como a sua necessidade; a ideia da reencarnação na antiguidade e em várias partes do mundo; tantos problemas, entre outros, cuja solução se encontra mais uma vez neste trabalho.
Síntese que os espíritas, os hesitantes e os incrédulos consultarão com igual interesse. A última estrofe do poema inspirado, Por quê? com a qual o Sr. Henri Sausse pontua seu livro, poderia muito bem servir como uma epígrafe:
𝐷𝑒𝑖𝑥𝑒-𝑛𝑜𝑠 𝑠𝑎𝑏𝑒𝑟 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝑎𝑝𝑟𝑜𝑣𝑒𝑖𝑡𝑎𝑟 𝑐𝑎𝑑𝑎 𝑛𝑜𝑣𝑜 𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑒𝑐𝑒𝑟,
𝐸 𝑒𝑠𝑡𝑎 𝑔𝑟𝑎𝑛𝑑𝑒 𝑙𝑒𝑖 𝑞𝑢𝑒 𝑛𝑎̃𝑜 𝑝𝑜𝑑𝑒 𝑠𝑒𝑟 𝑞𝑢𝑒𝑏𝑟𝑎𝑑𝑎:
𝑁𝑎𝑠𝑐𝑒𝑟, 𝑚𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟, 𝑟𝑒𝑛𝑎𝑠𝑐𝑒𝑟 𝑒 𝑑𝑒𝑝𝑜𝑖𝑠 𝑚𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟 𝑛𝑜𝑣𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒.
𝑃𝑎𝑟𝑎, 𝑛𝑜𝑣𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒, 𝑟𝑒𝑛𝑎𝑠𝑐𝑒𝑟 𝑒 𝑠𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑔𝑟𝑒𝑑𝑖𝑟”
Nesta obra de Henri Sausse, encontramos a transcrição dos textos alterados de A Gênese, para fundamentar os ensinamentos de Allan Kardec, a saber:
Transcrição integral dos parágrafos 33 e 34 (La Reincarnation) – página 242 - do capítulo XI – Genèse Spirituelle. Destacamos que estes parágrafos foram modificados na 5ª edição de A Gênese, inclusive com textos acrescentados no parágrafo 34, que foram relacionados por Sausse em sua denúncia de 1884;
Transcrição do parágrafo 31 do mesmo capítulo, com textos que foram alterados e se encontram somente na edição alterada.
𝐂𝐨𝐧𝐜𝐥𝐮𝐬𝐚̃𝐨
Muito tem se afirmado sobre a denúncia de Henri Sausse sobre a adulteração de A Gênese, e que esta havia sido endossada por espíritas refratários aos desvios ocorridos no movimento espírita francês. As fontes primárias e as pesquisas até agora efetuadas, colocam, como hipótese mais provável, Allan Kardec como sendo o autor das alterações encontradas nesta obra.
Em nossas pesquisas, este suposto endosso dos continuadores do Espiritismo à denúncia de Sausse não se confirma pelas fontes históricas. O que vemos é que não houve confirmação e aceitação deste suposto fato, e que notoriamente, é constatado o uso da edição alterada por parte dos principais continuadores e pioneiros do Espiritismo: Gabriel Delanne, Lèon Denis, Laurent de Faget, entre outros.
Esta última obra de Henri Sausse, juntamente com a pesquisa que publicamos em 25 de abril de 2021, nos permite afirmar que a denúncia de 1884, sobre a suposta adulteração, não teve prosseguimento, nem tampouco obteve eco no movimento espírita francês. E, verificamos que o próprio Sausse se utiliza da edição alterada para fundamentar pontos doutrinários em diferentes ocasiões. Pelo menos, é o que nos diz a sua última obra e a sua declaração na Revue Spirite de 1924, página 382:
“𝑵𝒂̃𝒐 𝒔𝒆𝒓𝒊𝒂 𝒖́𝒕𝒊𝒍 𝒓𝒆𝒖𝒏𝒊𝒓 𝒆𝒎 𝒏𝒖𝒎𝒂 𝒔𝒐́ 𝒐𝒃𝒓𝒂 𝒕𝒐𝒅𝒐𝒔 𝒐𝒔 𝒑𝒐𝒏𝒕𝒐𝒔 𝒅𝒂 𝑫𝒐𝒖𝒕𝒓𝒊𝒏𝒂 𝒒𝒖𝒆, 𝒏𝒂𝒔 𝒐𝒃𝒓𝒂𝒔 𝒅𝒆 𝑨𝒍𝒍𝒂𝒏 𝑲𝒂𝒓𝒅𝒆𝒄 𝒆 𝑳𝒆́𝒐𝒏 𝑫𝒆𝒏𝒊𝒔, 𝒔𝒆 𝒓𝒆𝒍𝒂𝒄𝒊𝒐𝒏𝒂𝒎 𝒄𝒐𝒎 𝒂 𝑹𝒆𝒆𝒏𝒄𝒂𝒓𝒏𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐?
Esta pesquisa foi efetuada em parceria com o CSI do Espiritismo e www.ObrasdeKardec.com.br.
Referências:
1. Jornal de Spiritisme – 1883-1884; 1884-1885; 1885-1886; 1886-1887 -1887-1888 – 1889 e 1890 -https://sites.google.com/.../revue.../revue-le-spiritisme...;
3. Delanne, Gabriel - “Les Apparitions materialisees des vivants et des morts – Tome II” - https://www.cslak.fr/.../Les_apparitions_materialisees...;
4. Delanne, Gabriel - Documents pour servir à l’étude de la reincarnation https://www.cslak.fr/.../Gabriel.../La_Reincarnation.pdf;
5. Denis, Léon - “Le problème de l’être et de la destinée” - https://gallica.bnf.fr/.../bpt6k5681738t/f41.item.texteImage;
6. Sausse, Henri - La reincarnation selon le Spiritisme – Enseignements d’Allan Kardec - https://www.cslak.fr/.../la_reincarnation_Henri_Sausse.pdf;
7. Revue Spirite 1924 – página 382 - https://www.retronews.fr/.../1-aout-1924/1829/3430573/48...
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