João Donha - Espiritismo
segunda-feira, 25 de agosto de 2025
VERDADES INCONCUSSAS?! OU VÉRITÉS ACQUISES?
Mas, ele tentou. Delineou as balizas de uma constituição do espiritismo, onde imaginou uma comissão central para o dia-a-dia e, congressos periódicos para definir as possíveis ou necessárias atualizações. Chegou a imaginar um formulário de adesão onde, prá ser considerado espírita, o adepto faria sua profissão de fé; o que, segundo ele mesmo, criaria a categoria dos espíritas professos (sic). Terminou por escrever: "Pela sua essência mesma, o Espiritismo toca em todos os ramos dos conhecimentos físicos, metafisicos e morais; as questões que ele envolve são inumeráveis; todavia, elas podem se resumir nos pontos seguintes que, sendo consideradas verdades adquiridas, constituem o programa das crenças espíritas". E... caput! Morreu sem enumerar os "pontos seguintes". (E eu fico me perguntando onde o Guillon Ribeiro foi buscar a expressão: verdades inconcussas!)
Alguns congressos foram convocados, após Kardec; principalmente em Bruxelas. Apesar de convidarem pessoas de vários países, não lhe davam um escopo mundial ou universal.
O primeiro ao qual ousaram dar esse status foi o Congrès International Spirite de Barcelone de 1888. Ali, os princípios fundamentais são expostos, tanto no discurso inicial feito pelo presidente da comissão, quanto nas conclusões do congresso.
No discurso de Torres Solanot:
- existência de Deus;
- imortalidade do espírito;
- pluralidade dos mundos habitados;
- pluralidade das existências da alma;
- progresso indefinido;
- afirmação de que a filosofia do Espiritismo deverá sempre se apoiar sobre a ciência e a razão.
Nas conclusões do congresso, indicando talvez a diversidade das tendências, consta como fundamentos do Espiritismo:
Existência de Deus - Imortalidade da alma - Preexistência: Reencarnação - Pluralidade dos mundos habitáveis e habitados - Progresso indefinido - Prática do bem, e o trabalho como meio de o realizar.
Recompensas e expiações futuras, em razão dos atos voluntários - Reabilitação e felicidade para todos - Comunhão universal dos seres - Comunicação com o mundo dos espíritos - Em direção a Deus, pelo amor e pela ciência - Fé racional - Esperança e resignação - Caridade para todos.
Solanot deu a entender que os principios fundamentais seriam definidos no próximo congresso, a se reunir em Paris, em 1889, que acabou tomando o nome de Congrès Spirite et Spiritualiste International, e contou com a presença até do Eliphas Levi. Não consegui encontrar nenhum oferecimento de download gratuito dos relatos desse congresso. Encontrei, sim, uma ótima oferta de ocasião de um exemplar original do livro num sebo de Paris, segundo eles em bom estado, ao preço de 145 euros, o que, acrescido do frete deverá ficar em torno de 500 reais! Muito para o meu bolso no momento. Quem quiser adquiri-lo, o endereço é este:
http://www.chapitre.com/CHAPITRE/fr/BOOK/collectif/compte-rendu-du-congres-spirite-et-spiritualiste-international-de-1889-tenu-a-pa,8953023.aspx
No livro Obras Póstumas, Leymarie cita que o congresso espírita e espiritualista de 1890 (como se vê, faziam congresso todo ano) criou uma comissão de propaganda com a incumbência de gerar um livro atualizando os princípios fundamentais do espiritismo, que seria revisado no próximo congresso.
Deste congresso de 1890, não econtrei ainda nenhuma referência virtual.
segunda-feira, 21 de julho de 2025
COLÔNIAS ESPIRITUAIS - BASES CIENTÍFICAS
Antes de iniciar o texto quero avisar que não tenho uma opinião formada sobre o assunto. Como já disse alhures, os três princípios que norteiam minha aquisição de conhecimentos, o que seria equivalente talvez a meus “princípios epistemológicos”, são: a certeza de que nada sei, a crença de que ninguém sabe e o sentimento de que nunca saberemos. Na posse sempre provisória desses princípios, eu caminho como um cego intelectual tateando informações e observações na tentativa de construir uma fugidia mundividência.
Tenho, porém, notado, que o assunto do título tem funcionado como uma senha de acesso a grupos espíritas antagônicos, sendo que em todos eles tenho amizades das quais não gostaria de privar-me. Assim, observo que a crença nas colônias espirituais abrem as portas para o grupo de amigos ligados a uma interpretação mais hegemônica do espiritismo, enquanto que a descrença e, até mesmo ironização, dessas supostas colônias, me franqueiam o acesso a agradáveis tertúlias com os amigos mais livres pensadores. Na árdua luta para manter o equilíbrio em cima do muro, vou pesquisando, ou, como já o disse, tateando informações contrárias ou favoráveis às magníficas cidades imortalizadas atualmente na cinematografia nacional.
Nesse mister, trago aqui as opiniões de um cientista cujo prestígio é quase unânime em todos os grupos espíritas. Trata-se de Ernesto Bozzano, professor de Filosofia da Ciência da Universidade de Turim, nascido em Gênova em 1862 e falecido na mesma cidade em 1943, tendo participado dos institutos de pesquisas psíquicas ou metapsíquicas da França, Inglaterra e Estados Unidos e publicado mais de cinquenta livros a respeito do assunto, frutos de pesquisas próprias ou coligidas de outros pesquisadores. Especificamente no seu livro “A Crise da Morte”, traduzido em 1926 no Brasil por Guillon Ribeiro, vamos buscar interessantes considerações sobre as construções no mundo espiritual. No 15º caso por ele tratado no livro, temos o depoimento atribuído ao Espírito de Rodolfo Valentino, através do médium americano Jorge Benjamim Wehner, constante do livro biográfico “Rudy”, escrito por Natacha Rambova, viúva do famoso artista. De um longo texto relativo ao seu processo de desencarne, destacamos o seguinte trecho:
“Aqui, tudo o que existe parece constituído em virtude das diferentes modalidades pelas quais se manifesta a força do pensamento. Afirmam-me que a substância sobre que se exerce a força do pensamento é, na realidade, mais sólida e mais durável do que as pedras e os metais no meio terrestre. Muitas dificuldades encontrais, naturalmente, para conceber semelhante coisa, que, parece, não se concilia com a ideia que se pode formar das modalidades em que deveria manifestar-se a força do pensamento. Eu, por minha parte, imaginava tratar-se de criações formadas de uma matéria vaporosa; elas, porém, são, ao contrário, mais sólidas e revestidas de cores mais vivas do que o são os objetos sólidos e coloridos do meio terrestre... As habitações são construídas por Espíritos que se especializaram em modelar, pela força do pensamento essa matéria espiritual. Eles as constroem sempre tais como as desejam os Espíritos, pois que tomam às subconsciências destes últimos os gabaritos mentais de seus desejos.”
E seguem-se as considerações de Ernesto Bozzano:
“A propósito desta passagem, notarei que, do ponto de vista científico, ninguém deveria admirar-se da observação do Espírito, relativamente à aparência sólida – tanto e mais do que a pedra – das construções psíquicas no meio espiritual. A Ciência, com efeito, já demonstrou que a solidez da matéria é pura aparência. Segue-se que o atributo “solidez” não constitui mais do que uma questão de “relação” entre o indivíduo e o objeto. Quer dizer que, para nós, seres formados de igual matéria constitutiva do meio em que vivemos, esse meio tem, necessariamente, que parecer sólido, pois que há perfeita relação entre o indivíduo e o objeto. De modo análogo, para um Espírito revestido de “corpo etéreo”, o meio etéreo, em que ele vive, deverá parecer não menos sólido, devido sempre à existência de perfeita relação entre o indivíduo e o objeto. Em compensação, o mesmo Espírito deverá perceber como sombras evanescentes as pessoas vivas e o meio terrestre, devido à falta de relação entre as condições em que ele existe e opera e as condições em que existem e operam os vivos, sem contar que ele terá a confirmação do que supõe, quando lhe aconteça passar através de uma parede como se esta não existisse.
“O último reparo contido no trecho acima, no qual se afirma que ‘as habitações são construídas por Espíritos que se especializaram na arte de modelar pela forma do pensamento a substância espiritual’, está de perfeito acordo com o que afirmara outra personalidade mediúnica, no 13º caso. Esta personalidade, falando das construções psíquicas, observa: ‘Grande número de Espíritos não se ocupa de tais construções, por estar esse trabalho reservado aos que manifestam disposições naturais para essa obra especial’. Esta concordância, no que respeita a um detalhe secundário, é teoricamente mais importante do que tantas outras referentes a detalhes fundamentais. Cada vez menos verossímil se vai assim tornando sempre a hipótese das “coincidências fortuitas”, à medida que as concordâncias entre as descrições dos Espíritos que se comunicam, se vão apresentando com relação a detalhes cada vez mais minuciosos ou insignificantes”.
Tanto quanto o Bozzano, eu também estranho a resistência de certas pessoas em aceitarem construções, mais ou menos perenes, feitas no além através do pensamento. Pois, aqui mesmo no nosso mundo dos vivos, todas as construções que nos cercam, todos os prédios e monumentos, estradas e obras de arte, templos onde oramos ou associações onde estudamos, todas sem exceção, foram feitas pela ação do pensamento. Alguém pensa na necessidade de uma ponte, conversa com outro que projeta a ponte, logo depois outro calcula os materiais necessários e as várias colocações, e alguma empresa ou o poder público contrata pessoas que transformam os materiais necessários e os localizam nos lugares predeterminados até a conclusão final da obra que terá maior ou menor durabilidade: algumas duram séculos, outras não resistem à primeira enchente. Exatamente o que ocorre no mundo espiritual, onde as construções feitas pelo pensamento têm duração relativa às necessidades ou desejos de quem as faz ou as utiliza. O uso dos membros nas construções do nosso mundo não invalida minha analogia, pois os membros só se movimentam sob a ação de um pensamento determinante. E, do outro lado, não sabemos se o pensamento age diretamente sobre a matéria como nos filmes de Harry Potter, ou se os membros do discutido perispírito se movimentam para a concretização das ações determinadas pelo pensamento. Mas, podemos afirmar que é sempre o pensamento do espírito, encarnado ou desencarnado, o móvel primeiro de qualquer ação.
Concordo que existem certos exageros nos relatos da vida após a morte. Desde aqueles que se referem à alimentação dos desencarnados até às descrições sobre a asfixiante burocracia que administraria as organizações ali existente. Esses últimos, tenho ousado atribuir à influência do médium. Como todos sabem, Chico Xavier, o médium de André Luiz, autor de “Nosso Lar”, a mais lida obra sobre as colônias espirituais, foi funcionário público durante toda sua vida funcional. Portanto, não é difícil supor que o emaranhado de requerimentos, despachos, petições e quejandos que cercaram sua vida durante trinta anos tenha se refletido na sua visão do mundo espiritual.
Por outro lado, não se sustenta a insistente argumentação irracional e quase infantil de que Kardec tenha condenado as tais colônias porque disse que não existem “lugares circunscritos” para os espíritos. Não sei se é intencional ou decorrente de um certo déficit intelectual, mas é impressionante não notarem, os que negam a possiblidade de colônias espirituais, que Kardec estava se referindo ao céu, o inferno e o purgatório e, não, a supostas cidades espirituais.
Enfim, essas são minhas opiniões e dúvidas. Não tenho a intenção de confrontar nenhuma das duas posições predominantes sobre o assunto mas, temo que, infelizmente, possa ter contrariado ambas.
terça-feira, 11 de abril de 2023
KARDEC E A TERAPÊUTICA ESPÍRITA.
Tenho lido, repetidas vezes, afirmações de que as práticas terapêuticas disseminadas pelos nossos centros (água fluidificada, passe e desobsessão) seriam criações do espiritismo brasileiro. Não. Como muitas outras coisas cujas origens são questionadas, essas práticas são também de responsabilidade de Kardec. Senão, vejâmo-las em citações do mestre lionês.
Justificativa da terapia espírita
"As doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida terrena; são inerentes à grosseria da nossa natureza material e à inferioridade do mundo que habitamos. As paixões e os excessos de toda ordem semeiam em nós germens malsãos, às vezes hereditários. Nos mundos mais adiantados, física ou moralmente, o organismo humano, mais depurado e menos material, não está sujeito às mesmas enfermidades e o corpo não é minado surdamente pelo corrosivo das paixões. (Cap. III, n° 9.) Temos, assim, de nos resignar às conseqüências do meio onde nos coloca a nossa inferioridade, até que mereçamos passar a outro. Isso, no entanto, não é de molde a impedir que, esperando tal se dê, façamos o que de nós depende para melhorar as nossas condições atuais. Se, porém, mau grado aos nossos esforços, não o conseguirmos, o Espiritismo nos ensina a suportar com resignação os nossos passageiros males. Se Deus não houvesse querido que os sofrimentos corporais se dissipassem ou abrandassem em certos casos, não houvera posto ao nosso alcance meios de cura. A esse respeito, a sua solicitude, em conformidade com o instinto de conservação, indica que é dever nosso procurar esses meios e aplicá-los.A par da medicação ordinária, elaborada pela Ciência, o magnetismo nos dá a conhecer o poder da ação fluídica e o Espiritismo nos revela outra força poderosa na mediunidade curadora e a influência da prece. (Ver, no Cap. XXVI, a notícia sobre a mediunidade curadora.)"(1)
Fluidoterapia: água fluidificada e passe
"Pode (o Espírito), pela ação da sua vontade, operar na matéria elementar uma transformação íntima, que lhe confira determinadas propriedades. Esta faculdade é inerente à natureza do Espírito, que muitas vezes a exerce de modo instintivo, quando necessário, sem disso se aperceber. A existência de uma matéria elementar única está hoje quase geralmente admitida pela Ciência, e os Espíritos, como se acaba de ver, a confirmam. Todos os corpos da Natureza nascem dessa matéria que, pelas transformações por que passa,também produz as diversas propriedades desses mesmos corpos. Daí vem que uma substância salutar pode, por efeito de simples modificação, tornar-se venenosa, fato deque a Química nos oferece numerosos exemplos. Toda gente sabe que, combinadas em certas proporções, duas substâncias inocentes podem dar origem a uma que seja deletéria. Uma parte de oxigênio e duas de hidrogênio, ambos inofensivos, formam a água. Juntai um átomo de oxigênio e tereis um liquido corrosivo.Sem mudança nenhuma das proporções, às vezes, a simples alteração no modo de agregação molecular basta para mudar as propriedades. Assim é que um corpo opaco pode tornar-se transparente e vice-versa. Pois que ao Espírito é possível tão grande ação sobre a matéria elementar, concebe-se que lhe seja dado não só formar substâncias, mas também modificar-lhes as propriedades, fazendo para isto a sua vontade o efeito de reativo.Esta teoria nos fornece a solução de um fato bem conhecido em magnetismo, mas inexplicado até hoje: o da mudança das propriedades da água, por obra da vontade. O Espírito atuante é o do magnetizador, quase sempre assistido por outro Espírito.Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético que, como atrás dissemos, é a substância que mais se aproxima da matéria cósmica, ou elemento universal. Ora, desde que ele pode operar uma modificação nas propriedades da água,pode também produzir um fenômeno análogo com os fluidos do organismo, donde o efeito curativo da ação magnética, convenientemente dirigida.Sabe-se que papel capital desempenha a vontade em todos os fenômenos do magnetismo. Porém, como se há de explicar a ação material de tão sutil agente? A vontade não é um ser, uma substância qualquer; não é, sequer, uma propriedade da matéria mais etérea que exista. A vontade é atributo essencial do Espírito, isto é, do ser pensante. Com o auxílio dessa alavanca, ele atua sobre a matéria elementar e, por uma ação consecutiva, reage sobre seus compostos, cujas propriedades íntimas vêm assim a ficar transformadas.Tanto quanto do Espírito errante, a vontade é igualmente atributo do Espírito encarnado; daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão direta da força de vontade. Podendo o Espírito encarnado atuar sobre a matéria elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de certos limites. Assim se explica a faculdade de cura pelo contacto e pela imposição das mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau mais ou menos elevado. (Veja-se, no capítulo dos Médiuns, o parágrafo referente aos Médiuns curadores. Veja-se também a Revue Spirite, de julho de 1859, págs. 184 e 189: O zuavo de Magenta; Um oficial do exército da Itália.)" (2)
Costumam argumentar que tais citações referem-se aos magnetizadores e, não, aos espíritas comuns, trabalhadores de nossos centros. De novo, não. Além dessa profissão de "magnetizador", existente no tempo de Kardec, ter desaparecido, e sua prática ter sido historicamente absorvida pelos espíritas, temos afirmações dele próprio que justificam tal acontecimento:
"Médiuns curadores. Os que têm o poder de curar ou aliviar pela imposição das mãos ou pela prece. 'Esta faculdade não é essencialmente mediúnica: pertence a todos os verdadeiros crentes, sejam médiuns ou não; muitas vezes não passa de uma exaltação da força magnética fortificada, caso necessário, pelo concurso dos bons Espíritos.' (n.175)." (3)
Desobsessão
Pelas citações abaixo, vemos que Kardec, ao contrário do que se acredita, não preconiza o tratamento da obsessão apenas em relação aos médiuns, mas, sim, para todo e qualquer indivíduo que o necessite. E os passos são aqueles conhecidos dos espíritas da atualidade: esclarecimento do obsidiado, fluidoterapia ("mediante ação idêntica à do médium curador") e, esclarecimento e convencimento do espírito obsessor, "em evocações particulares".
"A obsessão é a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Oblitera todas as faculdades mediúnicas; traduz-se, na mediunidade escrevente, pela obstinação de um Espírito em se manifestar, com exclusão de todos os outros.Os Espíritos maus pululam em torno da Terra, em virtude da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja que eles desenvolvem faz parte dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão, como as enfermidades e todas as tribulações da vida, deve ser considerada prova ou expiação e como tal aceita.Do mesmo modo que as doenças resultam das imperfeições físicas, que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é sempre o resultado de uma imperfeição moral, que dá acesso a um Espírito mau. A causas físicas se opõem forças físicas; a uma causa moral, tem-se de opor uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortifica-se o corpo; para isentá-lo da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para o livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre-arbítrio. Quase sempre, a obsessão exprime a vingança que um Espírito tira e que com freqüência se radica nas relações que o obsidiado manteve com ele em precedente existência. (Veja-se: Cap. X, n° 6; cap. XII, n° 5 e n° 6.)Nos casos de obsessão grave, o obsidiado se acha como que envolvido e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É desse fluido que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluido mau não pode ser eliminado por outro fluido mau. Mediante ação idêntica à do médium curador nos casos de enfermidade, cumpre se elimine o fluido mau com o auxílio de um fluido melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um reativo. Esta a ação mecânica, mas que não basta; necessário, sobretudo, é que se atue sobre o ser inteligente, ao qual importa se possa falar com autoridade, que só existe onde há superioridade moral. Quanto maior for esta, tanto maior será igualmente a autoridade. E não é tudo: para garantir-se a libertação, cumpre induzir o Espírito perverso a renunciar aos seus maus desígnios; fazer que nele despontem o arrependimento e o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações particulares, objetivando a sua educação moral. Pode-se então lograr a dupla satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito.A tarefa se apresenta mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação,presta o concurso da sua vontade e da sua prece. O mesmo não se dá, quando, seduzido pelo Espírito embusteiro, ele se ilude no tocante às qualidades daquele que o domina e se compraz no erro em que este último o lança, visto que, então, longe de secundar, repele toda assistência, É o caso da fascinação, infinitamente mais rebelde do que a mais violenta subjugação. (O Livro aos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII.)Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar de quem haja de atuar sobre o Espírito obsessor."
"Observação. - A cura das obsessões graves requer muita paciência, perseverança e devotamento. Exige também tato e habilidade, a fim de encaminhar para o bem Espíritos muitas vezes perversos, endurecidos e astuciosos, porquanto há-os rebeldes ao extremo. Na maioria dos casos, temos de nos guiar pelas circunstâncias. Qualquer que seja, porém, o caráter do Espírito, nada se obtém, é isto um fato incontestável pelo constrangimento ou pela ameaça. Toda influência reside no ascendente moral. Outra verdade igualmente comprovada pela experiência tanto quanto pela lógica, é a completa ineficácia dos exorcismos, fórmulas, palavras sacramentais, amuletos, talismãs, práticas exteriores, ou quaisquer sinais materiais. A obsessão muito prolongada pode ocasionar desordens patológicas e reclama, por vezes, tratamento simultâneo ou consecutivo, quer magnético, quer médico, para restabelecer a saúde do organismo. Destruída a causa, resta combater os efeitos. (Veja-se: O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII - "Da obsessão". - Revue Spirite, fevereiro e março de 1864; abril de 1865: exemplos de curas de obsessões.)" (4)
(1) ESE, XXVIII, 77.
(2) LM, 129, 130, 131.
(3) LM, 189.
(4) ESE, XXVIII, 81.