segunda-feira, 25 de abril de 2011

A VERDADE SOBRE AS PESQUISAS DE WILLIAM CROOKES

Prova científica dos fenômenos espíritas?
Ou exemplo de como um cientista competente em uma área de estudos pode facilmente ser enganado em outra?
Tchan..tchan... tchan... !!
Posso não ficar sabendo tudo a respeito, mas vou dar um grande passo nesse sentido.
Vou começar a ler agora o livro "Estudando o Invisível: William Crookes e a nova força", de Juliana Mesquita Hidalgo Ferreira, EDUC-PUC-SP.
Trata-se de uma tese universitária e o orientador, Roberto de Andrade Martins, no prefácio do livro, promete: "... a autora pesquisou e discutiu um grande volume de trabalhos da própria época investigada, assim como estudos históricos... em nosso país nunca foi publicado um estudo tão detalhado... Mergulhando em profundidade... no contexto da época, a pesquisadora procurou determinar se as investigações que o famoso químico desenvolveu... seguiam os padrões de cientificidade da época... esta obra representa também uma contribuição epistemológica, analisando a metodologia dessas pesquisas..."
Quem quiser ler também o livro, pode adquirí-lo através do e-mail vendas@livrariacortez.com.br (site www.livrariacortez.com.br), por míseros R$39,00, incluindo o frete.
Se não, espere minha resenha após a leitura. Mas, como são mais de quinhentas páginas... vai demorar...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

QUESTÕES DE FÉ

O esboço de metodologia de trabalho apresentado nas postagens anteriores é, na verdade, um desafio para os que pretendem um espiritismo científico. Um desafio para que paremos com acusações recíprocas de falta de cientificismo ou excesso de pieguismo e façamos realmente alguma coisa parecida com ciência. Isto é, aos que têm vontade. Porque, na forma como anda a carruagem, todos os espiritismo se equivalem: o kardecista, o roustainguista, o ramatista, e quejandos... todos são questões de crença e de fé. "Mas até o de Kardec?" perguntarão. Sim, ouso responder. Nenhum é científico. Podem até ter tido uma aparência científica em sua época; porém, tanto o conceito de ciência, como sua metodologia envoluíram de lá prá cá, e continuarão a evoluir sempre.
Que me perdoe nosso grande mestre Allan Kardec, mas apesar das valiosas obras de sabedoria religiosa que ele nos legou, as reuniões da sociedade espírita de Paris não resistiriam aos rigores científicos atuais. Vejamos um exemplo de atitude "científica" deles.
Discutiam a mediunidade nos animais; depois de ouvir uma série de opiniões (sim, opiniões!), foram perguntar a um espírito!
"A questão da mediunidade dos animais -- escreve Kardec no LM-236 -- se encontra completamente resolvida (sic) na dissertação seguinte, dada por um Espírito de quem já pudemos apreciar a profundeza e a inteligência em outras citações que já tivemos a oportunidade de fazer".
E segue a comunicação do Espirito Erasto, dada na tal reunião. Depois de fazer uma série de arrazoados pré-darwinianos da superioridade do homem sobre o animal e insinuar uma criação à parte de nossos espíritos, lá pelas tantas, o Espírito sai com esta:
"O senhor T..., conforme disse, magnetizou seu cão; o que aconteceu?
Ele o matou; o infeliz animal morreu após ter caído numa espécie de atonia,de languidez, conseqüência de sua magnetização. De fato, ao inundá-lo
de um fluido tirado de uma essência superior à essência especial de sua
natureza de cão, esse fluido o esmagou e agiu sobre ele, ainda que
lentamente, com a potência de um raio. Portanto, como não há nenhuma
assimilação possível entre nosso perispírito e o envoltório fluídico dos
animais propriamente ditos, nós os esmagaríamos instantaneamente se
os mediunizássemos".

Eu não acredito nessa história de que o sujeito magnetizou o cão e este morreu; esse senhor T. mais parece um "Gardenón" papudo. Em nossos dias, isto equivaleria a matar cachorro a passe! Na certa morreu de outra coisa. Se fosse uma sociedade científica teria feito experiências com protocolos, controles, relatórios, reprodução do fenômeno, etc. E não, simplesmente, perguntado a um espírito para esgotar o assunto.
Mas, o pior de tudo, o que descaracteriza completamente o Espiritismo Kardecista como ciência, é que até hoje, século e meio depois, quando discutem o assunto de mediunidade nos animais entre espíritas vão tirar a dúvida na "Codificação"; nesse texto! Como qualquer crente vai na Biblia. A nenhum espírita ocorre fazer experiências. Verificar controladamente em laboratórios, ou nos centros espíritas, ou mesmo em suas casas, quais seriam as possibilidades, reações ou consequencias de passe nos animais. E os que falam em "atualizar o Espiritismo", pensariam em consultar novos espíritos, de mortos mais recentes, sobre a dúvida.
Ora, imaginem o método de Kardec se estendendo para os diversos ramos da ciência. Querem saber sobre buracos negros? Nada de ler as teorizações e pesquisas do Mourão, logo superadas pelas do Hawking, logo superadas por outro John ou João qualquer. Nada disso. Vamos evocar o Galileu ou o Einstein e perguntar para um deles o que é esse tal de buraco negro e, nas palavras de Kardec, "resolver completamente a questão".
Por isso, repito, a Codificação, os Quatro Evangelhos de Roustaing, os livros do Ramatis, do André Luiz, do Armond, todos se equivalem: transitam em crenças; baseiam-se no princípio da autoridade, não da experimentação. Cada um é livre de acreditar em qualquer deles ou em todos. Arvorar-se em "purista doutrinário" para atacar qualquer um deles é atitude religiosa, talibânica até.

terça-feira, 12 de abril de 2011

DO MÉTODO - III

A ABORDAGEM

O objeto da Ciência Espírita é o Espírito. E o Espírito, como individualidade independente e sobrevivente ao corpo ainda não foi encontrado pela Ciência. Os espíritas, sem sua maioria, são teóricos. E, dentre esses teóricos, alguns conhecem o Espírito apenas pela "Codificação" Kardequiana; outros, um pouco mais atualizados, o conhecem também pelos relatos envelhecidos de pesquisas realizadas por diversos sábios no final do distante século XIX, e no começo do não menos distante século XX. Os esforços para tentar convencer a ciência moderna da existência do Espírito servindo-se da "Codificação" equivalem a esforços para que subordinassem suas teorias e pesquisas à Bíblia ou ao Alcorão. E a insistência em pesquisas metapsíquicas que não foram totalmente aceitas nem no seu próprio tempo soa ridícula. Assim, o principal trabalho da Ciência Espírita continua sendo, ainda, a comprovação da existência do seu objeto: o Espírito.
E o principal instrumento para a verificação da existência do Espírito, bem como o estudo de suas relações com os homens, sua origem, natureza e destino, é a mediunidade.
A partir daí, os candidatos a "cientistas espíritas" deveriam desenvolver um método, aplicável em qualquer lugar, que identificasse e desenvolvesse potenciais médiuns, matéria prima de pesquisas posteriores. Uma espécie de COEM, só que liberado de suas atribuições moralizadoras, evangélicas ou religiosas. Estabeleceriam protocolos que permitissem definir com um razoável grau de certeza os limites entre o fenômeno mediúnico propriamente dito e as manifestações do inconsciente do médium, também conhecidas como "fenômenos anímicos". Também poderiam chegar a parâmetros que permitissem com suficiente segurança a identificação dos espíritos comunicantes.
Uma outra vertente da metodologia de pesquisa da Ciência Espírita seria orientada para a comprovação ou não da reencarnação. Aqui, para não ficarem à mercê do aparecimento natural de "casos sugestivos de reencarnação", que ofereceriam uma pesquisa pouco mais que jornalística, os candidatos a "cientistas espíritas" poderiam utilizar da hipnose, ou do simples relaxamento, para provocarem regressão de memória que gerasse dados que pudessem ser tabulados e conferidos. É evidente que as regressões pitorescas, que levassem aos napoleões ou akenatões seriam desprezadas, em prol daquelas que remetessem a vidas triviais, passíveis, porém, de comprovação ou refutação. Outros recursos, tais como a datiloscopia (Fiorini) ou a grafologia, seriam também agregados.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

DO MÉTODO - II

DO OBJETO

O objeto de uma Ciência da Alma seria, evidentemente, a Alma. Ou, mudando apenas as palavras: o objeto do Espiritismo, como ciência, é, evidentemente o Espírito.
Reitero, como ciência. Pois o Espiritismo como religião tem o direito de meter-se em tudo. Não é essa a característica da religião: o meter-se em tudo e em todos os assuntos? A vocação para a totalidade? É bem verdade que a ciência também deve vocacionar-se para a totalidade. Como se chama esse negócio mesmo? Ah, o holismo. Mas, há uma diferença. É permitido à religião que cada fé ou cada guru, porque não dizer também cada adepto, tenha direito à sua própria e particular mundividência. E as provas são, também, particulares, subjetivas: a teofania, a revelação, a intuição, a tradição. Da ciência já se exige um esforço permanente de percepção da realidade como ela é; de objetivação de observações e provas dessa percepção; de tentativa de negação mesmo das provas apresentadas. Daí a tendência a restringir esses esforços a objetos específicos, de forma a poder abordá-los em sua totalidade; cabendo aos cientistas, de per si, desenvolverem suas visões de conjunto ou suas mundividências. E quando houver necessidade do desenvolvimento de uma visão de conjunto pela Ciência, essa deverá ser em forma de uma teoria racional, cujas partes, por sua vez, resistam à experiência.
Portanto, o objeto do Espiritismo como ciência é o Espírito; e podemos detalhar com Kardec: sua natureza, sua origem, seu destino e, claro, suas relações com o mundo corporal.
É claro que em seu desenvolvimento essa ciência terá imbricações não só com a religião, como também com todas as demais ciências: aquelas que estudam a natureza (física, química, geologia, etc.), aquelas que estudam o homem (antropologia, psicologia, etc.), as que estudam a sociedade, a moral, as leis. Além das imbricações, ninguém resistirá à tentação de projetar o que se vier a conhecer sobre o objeto dessa ciência na compreensão de pontos das demais ciências, assim como na compreensão das consequencias morais e comportamentais desse conhecimento.
Estão vendo a dificuldade? Parece que Kardec iniciou uma ciência que deriva irresistivelmente para a filosofia e para a religião; e, que estas duas vivem ameaçando de absorvê-lo totalmente.
Mas, voltemos ao objeto -- o Espírito --; e tentemos um método realmente racional e experimental de abordagem.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

DO MÉTODO - I

DA NATUREZA DO CUEE

O Controle Universal do Ensino dos Espíritos é um método religioso para a formação de uma doutrina; no caso, a doutrina espírita. Por que religioso? Porque se tratará sempre do controle do ensino de sábios; e, não, do controle do conhecimento (ou da pesquisa que gera o conhecimento); caso em que ele seria científico.
Se um princípio novo, se uma teoria inédita, fosse anunciada por um espírito qualquer, através de um médium qualquer, não seria na concordância com a comunicação de outros espíritos, através de outros médiuns -- fossem milhões e não só os mil do Kardec --, que um cientista buscaria a garantia ou a comprovação. Um cientista buscaria comprovação na experimentação. Realizaria experiências e observações na tentativa de afirmar ou negar o princípio ou a teoria apresentada. Só um religioso buscaria cotejar com outros ensinos. Um religioso sim, em recebendo um ensinamento, uma revelação, de um suposto sábio, poderá procurar outros supostos sábios para, respeitosamente, confirmar ou negar o ensino. Isto não é atitude científica; é comportamento de aprendiz, de discípulo, não de cientista.
Portanto, repito, o CUEE serve exclusivamente a propósitos religiosos, de formação doutrinária. Como foi Kardec que criou tal método, e como ele afirma tê-lo empregado na elaboração da doutrina, ou, como preferem alguns, na "Codificação", fica mais uma vez comprovado que o Espiritismo Kardecista é uma religião.

Os que pretendem consolidar uma Ciência Espírita, ainda que seja sob o nome de Ciência da Alma -- como proposto desde Bozzano até Regis --, devem elaborar outro método, de escopo e fôlego realmente científicos.
Mas, antes, devem identificar o objeto dessa ciência.
Será Deus, a natureza, a moral, o espírito, a mediunidade?
Tudo ao mesmo tempo não pode ser. Se não, deixa de ser uma ciência, prá se tornar uma enciclopédia.
Mas, isso é assunto prá outra postagem...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

INCORPORAÇAO

Assim como "kardecismo", que já provamos exaustivamente que existiu, existe e existirá sempre, a palavra "incorporação" provoca surtos de ira em certos espíritas, que, ao ouvi-la, apressam-se a dizer irritados que "isto não existe!" E acionam um botão qualquer de suas mentes programadas iniciando a repetição da cantinela decorada de que "o espírito não substitui completamente o médium em seu corpo na comunicação". Ora, e quem lhes disse que as pessoas que se servem descontraidamente do termo "incorporação" crêem em tal asneira? Parece que certas pessoas não pensam por conta própria: apenas repetem o que lhes foi "incorporado".
É claro que existe incorporação. Até entre vivos, digo, entre encarnados. Pois diariamente não existem pessoas "incorporando" idéias, conceitos, aspirações, do outro? E não é o que acontece na comunicação mediúnica: o médium "incorpora" tudo isso do espírito comunicante?
Certamente dirão: sim, mas atente para a regência. Você diz que "alguém incorporou algo de alguém", enquanto que os espíritas incautos (na visão deles) dizem que "alguém incorporou alguém". Sacou? o que eles dizem é que "fulano incorporou o Bezerra"; e, não, "fulano incorporou isso e aquilo do Bezerra".
Pois eu continuo dizendo que está certíssimo dizer-se que "fulano incorporou o Bezerra"!
Senão vejamos. Vamos para aquela final do programa Pinga-Fogo. O Castro Alves estava zanzando por ali, mas ninguém o via. Nossos olhos e ouvidos, tais como as câmaras televisivas que ali estavam, foram criados para verem e ouvirem corpos; os tais que ocupam lugar no espaço. O poeta não tinha um corpo, ao menos igual ao nosso, portanto, não era visto nem ouvido. Daí, ele se comunicou pelo Chico. O que nós víamos, ouvíamos e as câmaras captavam? O corpo do Chico! Ninguém via o Castro Alves; via apenas o Chico, o corpo do Chico. Então o que havia: nós só víamos e gravávamos o Castro Alves pelo corpo do Chico; Chico, portanto, "incorporava" o Castro Alves, tornando-o detetável.
Por que desprezar uma palavra tão redondinha, que transporta tanto em tão pouco, senão por um preconceito ou pela crença estúpida de que o outro é um ignorante que está pensando o que na verdade nós estamos pensando? E, em seu lugar, ter que usar um monte de expressões extensas como "fulano está transmitindo uma comunicação do Bezerra", ou horríveis como "está dando passagem"?
Ora, "fulano incorporou o Bezerra"... e pronto!

terça-feira, 5 de abril de 2011

É POSSÍVEL CRITICAR O CUEE?

No surgimento do Espiritismo, ou seja, na publicação do primeiro Livro dos Espíritos, em 1857, o método que Kardec consagraria como Controle Universal do Ensino dos Espíritos não foi aplicado. Kardec recebeu de Vitorien Sardou cinquenta cadernos de anotações do diálogo com os espíritos mantido através da médiunidade de duas jovens. Organizou-os de acordo com seus próprios critérios, e complementou-os com perguntas endereçadas aos Espíritos através da mediunidade dessas mesmas jovens e mais uma outra. A partir dessa publicação surgiu propriamente um movimento espírita. Diversos grupos mediúnicos que já existiam, e outros que se formaram motivados pela publicação do livro, passaram a funcionar em contato e buscando sintonia com o grupo de Paris, liderado por Kardec; principalmente após a criação, em janeiro de 1858, da Revista Espírita. A correspondência que ele passou a manter com esses grupos (a certa altura, "mais de mil", segundo ele mesmo) permitiram-lhe encetar um "controle universal" das mensagens que subisidiariam, a partir de então, não só a edição definitiva do Livro dos Espíritos, como também as demais obras que ele publicou, e que têm sido consideradas fundamentais para a construção da doutrina espírita.
Não sobraram anotações ou quaisquer outros elementos históricos que nos permitam compreender exatamente como ele exercia esse "controle universal". Mas, sempre, era ele quem o exercia. O próprio método científico, elaborado ao longo de séculos por inúmeras mentes, é considerado, em última e sincera análise, uma manifestação de subjetividade. Trata-se de um critério estabelecido pelo sujeito para compreender o objeto. Portanto, um objeto que extrapole tais critérios não será detetado pelo método, ou o será de forma deturpada. Imagine-se, então, um método elaborado e aplicado por um único sujeito. Sim, porque os demais apenas o alimentavam de informações, no caso, os ensinamentos dos Espíritos. Daí a necessidade de uma crítica isenta de paixões e fanatismos ao "controle universal do ensino dos espíritos" que teria subsidiado a "Codificação".