Assim como "kardecismo", que já provamos exaustivamente que existiu, existe e existirá sempre, a palavra "incorporação" provoca surtos de ira em certos espíritas, que, ao ouvi-la, apressam-se a dizer irritados que "isto não existe!" E acionam um botão qualquer de suas mentes programadas iniciando a repetição da cantinela decorada de que "o espírito não substitui completamente o médium em seu corpo na comunicação". Ora, e quem lhes disse que as pessoas que se servem descontraidamente do termo "incorporação" crêem em tal asneira? Parece que certas pessoas não pensam por conta própria: apenas repetem o que lhes foi "incorporado".
É claro que existe incorporação. Até entre vivos, digo, entre encarnados. Pois diariamente não existem pessoas "incorporando" idéias, conceitos, aspirações, do outro? E não é o que acontece na comunicação mediúnica: o médium "incorpora" tudo isso do espírito comunicante?
Certamente dirão: sim, mas atente para a regência. Você diz que "alguém incorporou algo de alguém", enquanto que os espíritas incautos (na visão deles) dizem que "alguém incorporou alguém". Sacou? o que eles dizem é que "fulano incorporou o Bezerra"; e, não, "fulano incorporou isso e aquilo do Bezerra".
Pois eu continuo dizendo que está certíssimo dizer-se que "fulano incorporou o Bezerra"!
Senão vejamos. Vamos para aquela final do programa Pinga-Fogo. O Castro Alves estava zanzando por ali, mas ninguém o via. Nossos olhos e ouvidos, tais como as câmaras televisivas que ali estavam, foram criados para verem e ouvirem corpos; os tais que ocupam lugar no espaço. O poeta não tinha um corpo, ao menos igual ao nosso, portanto, não era visto nem ouvido. Daí, ele se comunicou pelo Chico. O que nós víamos, ouvíamos e as câmaras captavam? O corpo do Chico! Ninguém via o Castro Alves; via apenas o Chico, o corpo do Chico. Então o que havia: nós só víamos e gravávamos o Castro Alves pelo corpo do Chico; Chico, portanto, "incorporava" o Castro Alves, tornando-o detetável.
Por que desprezar uma palavra tão redondinha, que transporta tanto em tão pouco, senão por um preconceito ou pela crença estúpida de que o outro é um ignorante que está pensando o que na verdade nós estamos pensando? E, em seu lugar, ter que usar um monte de expressões extensas como "fulano está transmitindo uma comunicação do Bezerra", ou horríveis como "está dando passagem"?
Ora, "fulano incorporou o Bezerra"... e pronto!
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