quinta-feira, 2 de julho de 2009

A CRÍTICA DA REVUE AO MEB

O Espiritismo não "surgiu religioso" no Brasil. Luiz Olympio Telles de Menezes até poderia ser relacionado entre os "espíritas científicos". Tanto é que, em termos de religião, continuou de bom grado católico como sempre fora. O Espiritismo tornou-se "religioso" no Rio de Janeiro, bem pertinho do final do século XIX, sob a liderança do Bezerra de Menezes e, em consequencia de uma certa "seleção natural", conforme eu disse na "postagem" anterior.
Então, por que a Revue disse o que disse em dezembro de 1869, quando recebeu O Echo d'Além Túmulo, do Olympio, lançado em setembro daquele ano?

"A introdução e a análise que o Sr. Luiz Oyimpio faz, da maneira pela qual os Espíritos nos revelaram a sua existência, parecem-nos bastante satisfatórias. Outras passagens, referindo-se especialmente à questão religiosa, dão-nos ocasião para algumas reflexões críticas. Para nós, o Espiritismo não deve tender para nenhuma forma religiosa determinada. Ele é e deve permanecer como uma filosofia tolerante e progressiva, abrindo seus braços a todos os deserdados, qualquer que seja a nacionalidade e a convicção a que pertençam. Não ignoramos que o caráter e a crença daqueles a quem se dirige "O Echo d'Além Túmulo" devem levar o Sr. Luiz Olympio a contornar certas suscetibilidades. Mas acreditamos, por experiência, que a melhor maneira de conciliar todos os interesses consiste em evitar as questões que cada um deve resolver em sua própria consciência, e empenhar-se em popularizar os grandes ensinamentos que encontram eco simpático em todos os corações chamados ao batismo da regeneração e ao progresso infinito."

Quanto deve, o Luiz Olympio, ter-se sentido injustiçado ante tal comentário. Pois, afinal, ele agira direitinho pela cartilha de Kardec. Este, se rejubilava em ter como membros de sua sociedade, espíritas de todas as confissões religiosas: católicos, protestantes, muçulmanos. E reiterava que o Espiritismo era o principal aliado das religiões, pois fortalecia a fé, dando explicações racionais ao que antes se cria por tradição.
O que os redatores da Revue, sucessores de Kardec, ignoravam, era o contexto histórico na Bahia. O Arcebispo da Bahia, D. Manuel Joaquim da Silveira, ante o progresso alcançado por Olympio e seus amigos na divulgação do espiritismo, lançara, em 16.6.1867, uma pastoral condenando veementemente o Espiritismo, porque, segundo ele, contrariava os dogmas católicos como a ressurreição e o destino definido dos mortos. Olympio contra-argumentava que o Espiritismo corrigia os dogmas católicos, e que a Igreja muito se beneficiaria se o incorporasse num lance de atualização e progresso. Isso tudo, claro, fudamentando-se na Biblia, afinal, a base sobre a qual se apoiava o Arcebispo. Ora, prá quem vê de fora, parece que o Olympio queria atrelar o Espiritismo nascente ao catolicismo. Daí, a alusão à "questão religiosa", que alguns apressadinhos tomam como uma crítica ao "religiosismo" , coisa ainda inexistente naquele momento.

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