sexta-feira, 8 de abril de 2011

DO MÉTODO - II

DO OBJETO

O objeto de uma Ciência da Alma seria, evidentemente, a Alma. Ou, mudando apenas as palavras: o objeto do Espiritismo, como ciência, é, evidentemente o Espírito.
Reitero, como ciência. Pois o Espiritismo como religião tem o direito de meter-se em tudo. Não é essa a característica da religião: o meter-se em tudo e em todos os assuntos? A vocação para a totalidade? É bem verdade que a ciência também deve vocacionar-se para a totalidade. Como se chama esse negócio mesmo? Ah, o holismo. Mas, há uma diferença. É permitido à religião que cada fé ou cada guru, porque não dizer também cada adepto, tenha direito à sua própria e particular mundividência. E as provas são, também, particulares, subjetivas: a teofania, a revelação, a intuição, a tradição. Da ciência já se exige um esforço permanente de percepção da realidade como ela é; de objetivação de observações e provas dessa percepção; de tentativa de negação mesmo das provas apresentadas. Daí a tendência a restringir esses esforços a objetos específicos, de forma a poder abordá-los em sua totalidade; cabendo aos cientistas, de per si, desenvolverem suas visões de conjunto ou suas mundividências. E quando houver necessidade do desenvolvimento de uma visão de conjunto pela Ciência, essa deverá ser em forma de uma teoria racional, cujas partes, por sua vez, resistam à experiência.
Portanto, o objeto do Espiritismo como ciência é o Espírito; e podemos detalhar com Kardec: sua natureza, sua origem, seu destino e, claro, suas relações com o mundo corporal.
É claro que em seu desenvolvimento essa ciência terá imbricações não só com a religião, como também com todas as demais ciências: aquelas que estudam a natureza (física, química, geologia, etc.), aquelas que estudam o homem (antropologia, psicologia, etc.), as que estudam a sociedade, a moral, as leis. Além das imbricações, ninguém resistirá à tentação de projetar o que se vier a conhecer sobre o objeto dessa ciência na compreensão de pontos das demais ciências, assim como na compreensão das consequencias morais e comportamentais desse conhecimento.
Estão vendo a dificuldade? Parece que Kardec iniciou uma ciência que deriva irresistivelmente para a filosofia e para a religião; e, que estas duas vivem ameaçando de absorvê-lo totalmente.
Mas, voltemos ao objeto -- o Espírito --; e tentemos um método realmente racional e experimental de abordagem.

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