Há pouco me referi à credulidade dos espíritas aceitando sem criticas pretensas profecias de Chico Xavier. Alguns chegam a atacar o pobre médium -- que não está entre os encarnados para se defender com facilidade -- por "fazer profecias com datação exata", sem se darem ao trabalho de verificar a autenticidade do texto ou da pretensa entrevista, saturada de pistas que a tornam bastante suspeita. Esse não é o primeiro acontecimento que demonstra a credulidade excessiva de uns, a má intenção de outros, e a justa indignação de um grande número de espíritas ante as fantasias, exageros, aberrações intelectuais, relatos de supostas reencarnações -- onde o general sempre reencarna como general, o médium como médium, o político como político, o escritor como escritor, num vai-vem vicioso -- que se agregam ao movimento espírita. Nosso caro amigo Sergio Brandão, num atencioso comentário ao texto, chegou a sugerir a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa por parte dos órgãos representativos do movimento. Ele também não é o primeiro a pensar assim, numa justificável irritação dos espíritas estudiosos ante tudo isso.
Mas, convenhamos, essas coisas não acontecem apenas no espiritismo e, sim, em todos os campos do conhecimento e do pensamento. Qual não será a irritação dos professores sérios, dos físicos dedicados, dos engenheiros inteligentes ante as heresias científicas usadas, por exemplo, pelos que disseminam teorias conspiratórias sobre a "farsa da conquista da Lua"; dos cientistas quando constatam que suas descobertas recentes de raios de electrons ou coisas assim saídas dos buracos negros dos centros de galáxias são associadas com as expectativas místicas de 2012; ou dos astrônomos, amadores ou não, ao verem suas previsões já concretizadas de aproximação marciana servirem anualmente de alarmismos e frenesis em mensagens eletrônicas? Se é assim na ciência, imaginemos na religião! Como não devem sentir-se os adeptos conscientes da umbanda quando vêem sua religião associada indevidamente a charlatões que sacrificam animais ou até pessoas em rituais esdrúxulos de pretensa magia negra?
Teria fim, uma luta encetada por organismos representativos para entregarem prontinho aos interessados o que é ou não da doutrina?
Penso que, aqui, repete-se a necessidade do ensino da pesca ao invés do fornecimento do peixe. Cada pensante ou pensador deve aprender a separar o joio do trigo, a verdade e a mentira, nas idéias e movimentos que abrace. Quem se acha de posse de uma boa ceifadeira ou um bom método de separação, que o ofereça aos demais.
O importante é que desenvolvamos a responsabilidade pelas nossas crenças. E isso acontece através do estudo, da leitura do maior número possível de autores, da vivência de experiências e convivências em atividades de grupos, sempre com o olhar crítico, mantendo um equilíbrio saudável entre o ceticismo e a aceitação
Porque eu, particularmente, não me sinto credenciado para fiscalizar ninguém. Assim como não conheço ninguém suficientemente graduado para me fiscalizar no campo das idéias; e no campo da prática, faço concessão apenas no tocante àquilo que já foi objetivado consensualmente em forma de lei.
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