terça-feira, 17 de dezembro de 2013

"NOUS DIRONS QUE..."




É o estilo de Kardec para definir o Espiritismo: "Diremos que..."
A primeira vez foi em 1857, em O Livro dos Espíritos:

"Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o espiritismo consiste na crença nas relações do mundo material com os espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do espiritismo serão os espíritas, ou se o quiserem, os espiritanos".

A palavra "crença" não fica bem num texto com pretensões científicas, assim como o qualificativo escolhido não foi muito feliz, então, em 1860, na segunda edição de O Livro dos Espíritos, ele mudou para:

"Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o espiritismo tem por principio as relações do mundo material com os espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do espiritismo serão os espíritas ou, se o quiserem, os espiritistas".

Mas, antes disso, em 1859, na primeira edição de O que é o Espiritismo, ele escreve:

"Para responder desde agora à questão formulada em nosso título, diremos que: o Espiritismo é a doutrina fundada sobre a existência dos Espíritos, ou seres incorpóreos do mundo invisível, e suas relações com o mundo corporal. Podemos ainda dizer que: o Espiritismo é a ciência de tudo o que se refere ao conhecimento dos Espíritos ou do mundo invisível".

Três anos depois -- portanto, em 1862 --, na terceira edição do seu O que é o Espiritismo, encontramos:

"Para responder desde agora à questão formulada em nosso título, diremos que: O Espiritismo é a ciência de tudo o que se refere ao conhecimento das almas ou Espíritos e do mundo invisível, e às suas manifestações".

Mesma coisa ele repete em 1863, por ocasião da quarta edição.

Já em 1865, na sexta edição de O que é o Espiritismo, encontramos a versão definitiva da definição:

"Para responder desde agora e sumariamente à questão formulada no título deste opúsculo, diremos que:
O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se pode estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as consequências morais que decorrem dessas relações
.

"Pode-se defini-lo assim:
"O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e da destinação dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal".

Além disso, talvez em virtude do lançamento um ano antes de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ele passa a colocar na capa e na folha de rosto de O que é o Espiritismo a frase: Fora da caridade não há salvação.

Apenas curiosidades... Existem várias outras diferenças interessantes entre as primeiras edições do livro O que é o Espiritismo, que talvez abordemos em outra oportunidade.

(Com exceção da primeira edição do LE -- que tenho em fac-símile publicado em 1957 pelo Canuto Abreu -- os demais livros foram consultados, também em fac-símile -- ou em imagem, ou, ainda, em fotografia, se o preferirem -- disponibilizados no site do IPEAK).



5 comentários:

  1. É a maneira com que é organizada e(ou) administrada esta relação com o mundo corporal que faz com que nem todas as instituições que utilizem médiuns em seus trabalhos sejam consideradas como espíritas? Quais naturezas, origens e destinações são, seriam ou devem ser objetos de estudos do "Espiritismo"?

    Desde já, agradeço a atenção.

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  2. Prezado Henry, nesse aspecto minha alteridade é bastante ampla. Penso que tudo o que se refere ao espírito em si, e suas relações com o mundo corporal, devem ser objeto de estudos do Espiritismo. E penso, ainda, que "instituição espirita" é aquela que se declara como tal, já que espiritismo não é privilégio exclusivo de nenhuma escola. Podemos discutir até o esgotamento os conceitos e teorias espíritas; mas, negar ao outro sua afirmação de "espírita" não acho justo.

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  3. A melhor definição ainda é a original do Kardec:
    "Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o espiritismo consiste na crença nas relações do mundo material com os espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do espiritismo serão os espíritas, ou se o quiserem, os espiritanos".
    Ou seja: não é lícito confundir "espíritas" (crentes nessa possibilidade de comércio intermundos) com adeptos da "Doutrina Espírita" elaborada pelo Kardec. Quanto à questão da "crença", revela a insegurança do Kardec relativamente ao que colocava no papel. Sempre é necessário ter em mente que o real objetivo dele era reformar o Cristianismo.

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  4. Na verdade acabei misturando as coisas. "Espíritas" são os que creem na existência de espíritos e na possibilidade da comunicação desses seres com os humanos de forma regular; não havendo nessa possibilidade de comunicação nenhuma violação das "leis" da natureza.
    Mais ou menos isso é o que consta no LE definitivo. Mas "Espiritismo" - um substantivo - tem conotação de doutrina. Então não seria legítimo considerar como "espíritas" apenas aos adeptos de uma doutrina - no caso a elaborada pelo Kardec ("DE").

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  5. Até podemos atribuir ao vocábulo "Espiritismo" a titulação de uma doutrina, e considerar "espíritas" seus adeptos. Mas, por que tal doutrina teria que ser exclusivamente a de Kardec? Por que ele não poderia ser uma "escola" dentro da "doutrina", assim como, por exemplo, o "comunismo" deixou de ser apenas um "marxismo", para tornar-se um "marxismo-leninismo", um "maoísmo", etc.? Apenas por causa do mito alimentado por amplo número de espíritas (e tlvez acreditado por ele) de que ele "criou" o neologismo?

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