"Espiritismo, esta loucura do século XIX" é o título do livro de Augusto Araújo, lançado pela Fonte Editorial em 2016, que considero, dentre todos os textos oriundos de teses acadêmicas, o que mais fundo penetrou na questão da identidade do Espiritismo como ciência, filosofia ou religião.
Mas, não é sobre o livro que pretendo comentar. É sobre a frase-título.
Ela consta do livro "A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo", na 5ª Edição de 1869, Capítulo X, Item 30, assim: "eh bien! le Spiritisme, cette folie du dix-neuvième siècle, selon ceux qui veulent rester au rivage terrestre, ..." -- "Pois bem! o Espiritismo, esta loucura do século dezenove, segundo os que se obstinam em permanecer na margem terrena, ...".
Consta, então, na edição de 1869 -- a que tem sido reproduzida pelas inúmeras editoras até os dias de hoje e, considerada por muitos como a versão definitiva --, mas, não consta nas edições de 1868.
Entretanto, não foi na Gênese a primeira vez que Kardec serviu-se desta expressão.
Na Revista Espírita de setembro de 1860, quando comenta o livro "História do Maravilhoso e do Sobrenatural", de Louis Figuier (posteriormente colocado no Catálogo Racional com o título "História do Maravilhoso nos Tempos Modernos"), Kardec escreve: "or, les racines du Spiritisme, de cet égarement du dix-neuvième siècle, pour nous servir de son expression,..." -- "Ora, as raízes do Espiritismo, esta loucura (ou desvario, desvio, extravio, erro, alucinação) do século dezenove, para nos servirmos de sua expressão..."
O título do livro do Augusto Araújo não é, portanto, como julgaram alguns, uma crítica do autor ao espiritismo; ele apenas pinçou da kardequiana a frase.
Trata-se da crítica de outro autor, do próprio Século XIX, reproduzida de forma irônica por Kardec em dois momentos, num recurso estilístico que pode funcionar como evidência de autoria nas duas oportunidades. Ou seja, a utilização de uma frase rara, por Kardec, nessas duas ocasiões, torna-se mais um indicativo de que ele próprio fez as revisões na quinta edição da Gênese.
Muito interessante Donha! De peça em peça, o quebra-cabeça vai se montando!
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