domingo, 14 de junho de 2009

OS CONGRESSOS ESPÍRITAS

Afinal, Kardec venceu. Sua proposta de congressos periódicos que manteriam o espiritismo atualizado, aconteceu. Desde seu desencarne prematuro naquele indesejado aneurisma de 31 de março de 1869, os congressos se realizaram. Inicialmente, foram regionais, francofônicos, porém com participação de pessoas de vários idiomas. Em 1888, em Barcelona, a série assumidamente internacional se inicia, e sucede-se até o último da fase européia, realizado também em Barcelona em 1934.
Daí, uma sombra tenebrosa escurece os corações humanos: o avanço do fascismo. E a mobilização das forças progressistas contra esse fantasma, enseja uma luta que ceifa milhões de vidas, e suspende temporariamente atividades esportivas, científicas e culturais de cunho internacional. O movimento espírita não seria poupado: encerra-se a fase de liderança européia.
Os congressos de alcance extra-nacionais vão se reiniciar em 1947, em Buenos Aires, caracterizando uma fase latino-americana na liderança do movimento espírita. Sucedem-se a partir daí os Congressos Espíritas Panamericanos, que geram a Confederação Espirita Panamericana - CEPA, que hoje promove também congressos de âmbito internacional.
Mas o início da nova fase de congressos realmente mundiais acontece no final do século, por um trabalho da FEB, cuja crescente influência ideológica e editorial gerou o Conselho Espírita Internacional, que também promove congressos mundiais, sendo o próximo marcado para Valença, Espanha, em 2010.

Como não poderia deixar de ser, os congressos refletem as tendências gestadas dentro do movimento espírita. Hoje em dia as duas principais tendências manifestam-se separadamente, de maneira aparentemente irredutível, nos congressos da CEPA e do CEI: na primeira, o laicismo e a insistência na afirmação científica do espiritismo; no segundo, uma afirmação religiosa e cristã.
Nos congressos da primeira fase (1888/1934) as tendências se encontravam no mesmo evento e tendiam a reduzir-se numa ação comum. Nesses congressos, os discursos, refletindo as tendências, podem ser divididos assim:
- exaltação do espiritismo, suas maravilhas e as benesses que a humanidade recebe dele;
- confirmação dos fatos espíritas, recorrendo sempre à relação de sábios que pesquisavam e comprovavam tais fatos:
- convocação para um trabalho de intervenção social e política por parte dos espíritas;
- preocupação com sua identidade: científica e/ou religiosa.

2 comentários:

  1. Esta história do espiritismo, à base de congressos, tem o seu interesse. Contudo, que me perdoe aqui João Donha, há evidentemente outras maneiras de a contar, dependendo do sítio onde se está e da cabeça que conta a História.

    Tenho aqui um livro, que já li e que pode ser encontrado na net (cuidado porque, tendo imprimido numa loja de multicópias, é um calhamaço com mais de 400 páginas...):
    LEBEN MIT DEN TOTEN / Diethard Sawicki / Geisterglauben und die Entstehung des Spiritismus in Deustschland / 1770 - 1900
    o que significa:
    VIVER COM OS MORTOS / nome do autor / A crença nos Espíritos e o aparecimento do Espiritismo na Alemanha / 1770 - 1900

    Mas há outros investigadores que começam a contar a História do Espiritismo, também na Alemanha, de maneira muito diferente, alguns iniciando com escritos de Leibnitz em 1714, de G.E.Lessing, de Immanuel Kant, e muitíssimos outros menos conhecidos.

    Das mesas dançantes vibrantes e falantes havia com fartura também na Alemanha, e noutros países, 100 anos antes de aparecerem na moda parisiense, além de sessões espíritas com todos os detalhes, casas onde os Espíritos batiam nos móveis e paredes dando sinal de vida e respondendo a perguntas codificadas já muito tempo antes das irmãs Fox, por exemplo, na imediações de Braunschweig, em Dibbesdorf, como foi relatado... num jornal, em 1767 "Der Klopfergeist zu Dibbesdorf" etc. etc. etc.

    No livro que refiro acima, por exemplo, fala-se no Inferno e na Divina Comédia de Dante (que devem ter sido baseados em quaisquer noções vindas do Além e dos respectivos ESPÍRITOS, porque Dante, se adivinhava, é porque era médium vidente...) e de escritores que estudaram a comunicação com os Espíritos já na Idade Média como Claude Lecouteux (Köln 1987) e Jean-Claude Schmitt (Stuttgart 1995).
    Isto apesar das perseguições dogmáticas e das fogueiras inquisitoriais.
    O próprio Allan Kardec referiu na Revista Espírita o caso muitíssimo conhecido da vidente de Prevost (falecida em 1829) e a não menos importante figura de Johann Kaspar Lavater e as suas cartas de 1798 em que fala, nada mais nada menos que... do perispírito, a que chamou "corpo espiritual", para mim uma designação muito mais simpática e realista do que aquela. "Peri" é um prefixo que significa "à volta de", deu origem àquelas confusões do "envelope" (traduzido à letra de enveloppe) e do "revestimento", sendo um corpo complexíssimo que "incorpora" todo o nosso organismo até à mais ínfima célula (nada parecido com um "casaco"), para governar e manter vivo o corpo e todos os seus mais ínfimos e fabulosos detalhes orgânicos.
    É claro que há ainda aquele outra não menos extraordinária referência (do próprio Allan Kardec) que nos diz que os homens da antiguidade clássica já sabiam tudo a respeito dos Espíritos. Ver por favos aqui:
    Da cultura da Grécia antiga a Allan Kardec, a falta de memória da Humanidade:
    https://espiritismocultura.com/oleport/greciant/

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  2. Excelente contribuição, caro Costa Brites. É importante que os espíritas conheçam a história anterior a Kardec. Ressalta a faceta humana do espiritismo e diminui um pouco a atribuição de tudo a um "grandioso plano divino".

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